Em seminário na Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) para debater sobre propostas para diversificar a economia do Estado, o executivo Jório Veiga apontou que os futuros investimentos precisam contar com apoio de um centro de inteligência negocial. “Não é fazer uma empresa e buscar mercado, é buscar o mercado e fazer as empresas realizarem os investimentos orientados para que haja destino certo”, sugeriu, para dar como exemplo a China, que vai importar um trilhão de dólares nos próximos cincos anos.
“E aí me pergunto: quanto vai sair de Manaus para China desse trilhão de dólares? Eu acho que não tem ninguém prevendo essa exportação, e se a gente falar de 0,1% desse trilhão de dólares, a gente está falando de um bilhão de dólares que poderia reforçar a nossa economia, e isso com certeza não sairia de grandes empresas, mas poderia sair de pequenas e médias empresas”, disse Jório veiga, que juntamente com Ulisses Tapajós, escreve sobre Indústria no livro Amazonas 2073+ – O Futuro, Presente, lançado ontem (21) pelo Instituto Piatam, na FIEAM.
Veiga cita que o pescado poderia ocupar importante posição no mercado internacional. Mas que, por falta de informações aqui, o maior exportador mundial de tambaqui, por exemplo, é a China, que no ano passado exportou mais de 800 mil toneladas do peixe. “E nós, que temos o tambaqui endêmico na Amazônia, continuamos a reboque de umas pequenas fazendas que não usam a tecnologia já existente por falta de gente qualificada”, constata o executivo.
Com mais de 35 anos de experiência no segmento industrial, Veiga afirma que empresas de grande porte instaladas no Polo Industrial de Manaus (PIM), apesar dos benefícios locais, estão muito ligadas a políticas tributárias de vários países no mundo, que possibilitam decisões de retirada de investimentos locais.
Para o executivo, o PIM tem que se transformar em centro de excelência em produção, no que diz respeito à qualidade, flexibilidade e velocidade com a cadeia de suprimentos, olhando sempre para o futuro, vendo tendências da tecnologia dos novos produtos, para estar a diante da necessidade.
Com propostas para o desenvolvimento sustentável do Amazonas, o livro Amazonas 2073+ é composto por estudos de empresários, cientistas e especialistas, nas áreas de planejamento, capital humano, indústria, tecnologia da informação e comunicação, logística portuária, agronegócio, mineração, turismo e projeção nacional, bioeconomia, gestão ambiental, serviços ecossistêmicos, recursos florestais e pesca e piscicultura.
As propostas estratégicas apresentadas visam, segundo o vice-presidente da FIEAM, Nelson Azevedo, um futuro melhor para as próximas gerações e uma economia pujante e duradora. A necessidade de investimentos e de um plano para educação, para Azevedo, fica clara para que o “amazônida” seja capaz de construir soluções, importar fórmulas e tentar adaptá-las à sua localidade.
“Destaco uma visão, muito bem exposta no livro, de que precisamos ter iniciativas, refletirmos sobre elas, nos distanciarmos de questões políticas ou partidárias e começar a pô-las em prática com inteligência, determinação e clareza de onde queremos chegar”, destacou Azevedo, ao falar da iniciativa do Instituto Piatam, que tem como base o planejamento visando ao novo modelo econômico pós-Zona Franca de Manaus e futuro do Amazonas.
Prosperidade rural amazônica
Diretor financeiro da Bemol e Fogás e cofundador e conselheiro da Fundação Amazonas Sustentável, Denis Benchimol Minev, é autor do capítulo “Planejamento” do livro. A construção da prosperidade rural do Amazonas, com o setor primário, tem forte interação com diversos aspectos ambientais que buscam uma Zona Franca próspera no século 21, observa Minev.
De acordo com o empresário, é preciso que o Amazonas organize a estrutura fundiária, utilize os recursos naturais em prol da prosperidade, construa e adeque sensatamente leis e instituições que contribuam para a conservação, além de desenvolver a infraestrutura.
O economista destacou a falta de desenvolvimento do capital humano como fator negativo para o estado. Estimular e formar empreendedores sustentáveis em grande escala se tornou essencial para enquadrar o capital humano e inserir a Amazônia como parte da geração de conhecimento mundial.
“Quando você tem gente boa e bem treinada, o mundo vem até você. Eu sinto em dizer que, se por algum acaso, as indústrias atuais do PIM fechassem as portas, não teria ninguém correndo para contratar nossa mão de obra pela sua capacidade ou conhecimento. Continuamos com a indústria muito baseada nos incentivos e não baseada no nosso capital humano”, frisou Minev.
Para o biólogo Adalberto Luis Val, sem a capacitação de pessoas em todos os níveis, não é possível desenhar um futuro vitorioso e é aí que se encontra o principal problema que vivemos hoje no país como um todo. “É preciso fazer com que primeiro a ciência seja executada como uma atividade de mão dupla e, para isso, tem que saber qual a demanda social e trazer para dentro das bancadas dos laboratórios”, explicou Val, ao ressaltar que não basta só produzir as informações, é preciso socializá-las com uma sociedade preparada para absorver as informações.