“Em busca de uma nova estação”

Jornalista David Almeida

No dia de maior pico do COVID, 11° dia, com muita febre, fui esfriando, ficando sem Chão: meus olhos se fecharam, dormi e não sei pra onde onde fui.

Era como se estivesse num túnel envolto de gelo, transparente, as vezes de cor azul, cinza, mas muito frio e eu deitado numa plataforma gelada, andando em cima – acho – de trilhos, meus pés frios transmitiam essa temperatura ao meu corpo, sentia que tudo era muito veloz, minha vida tava passando rápido, mas pra onde eu iria, será que não estava mais nesse “Planeta Ainda Azul?” como tinha chegado ali daquele jeito?

Consegui me virar um pouco, olhei pra frente e vi que era realmente um túnel, mas não tinha nada no final, só aquela transparência do gelo, as vezes de cor azul e cinza, tudo muito veloz e um silêncio de causar barulho em qualquer cabeça pensante, aí pensei que estaria, talvez na estação do inverno, meu deus me confundi todo, não mais sabia qual era a primeira, a segunda ou a ultima estação do tempo; fechei os olhos, mas as cores não mudavam, sentia o que me conduzia, com uma velocidade a todo vapor e me dei por conta que se fosse mesmo que eu estivesse na estação do inverno, era a ultima, ah que tristeza, mas me alegrei que se tivesse tempo e paciência chegaria na primeira estação novamente: A Primavera, aí logo após viria a estação da luz, da Claridez da vida: Verão! Mas o frio me leva de novo ao inerte; a parada pra sempre da ultima estação, tudo escureceu comecei a tremer e esqueci de tudo parecia agora que estava correndo em câmara lenta soltando uns fiapos do frio que vestia meu corpo, pra mim era o final de tudo, totalmente inerte na plataforma em alta velocidade, de repente senti algo grudar na parte do lado direito do meu nariz, achei esquisito, passei a mão e segurei – era primeira coisa palpável que aparecia na minha vida dentro do túnel de gelo – uma pétala de uma flor, claro, que era de uma flor, uma flor matizada de azul e branco, e comecei a abrir meus olhos e ver o túnel mudando lentamente de cor, a imagem era outra, eram várias cores começando a aparecer e ficar denso sobre a velocidade, colorindo tudo, minha vida tomava outro rumo, aquele de frio e tristeza, ia ficando rápido pra trás. Percebi que eram flores, rosas que a partir daquele momento iam reger minha vida, era a estação da Primavera, que ia florir e perfumar meu caminho; não sentia mais frio, só o pulsar do coração empurrando o sangue pra esquentar meu corpo, olhava e via pela primeira vez aquele túnel todo colorido, poxa, sentia a força do pulsar da vida em cada músculo sob a pele do meu corpo, sentia o ar perfumado cheiroso da vida adentrar meus pulmões, oxigenar meu sangue, sentir a oportunidade de uma nova vida, de viver todas as estações pra depois voltar à vivê-las de novo; uma dádiva do Criador.

Comecei a ver mudanças nas cores, por entre as as folhas, petalas, via claridade de Luz penetrando e iluminando algumas partes, clareando mais ainda o lugar me virei e olhei para o final do túnel, lá estava a luz brilhante da próxima estação a luz da minha vida que acendia um sol no meu rosto e apagava a tristeza nele, um dia contida, enfim, tinha ali a oportunidade de viver uma nova vida, passando muitas vezes por todas estações. Um sonho de uma nova estação pra todos.

A plataforma que estava agora forrada de pétalas das flores aquecidas pelo sol, foi diminuindo a sua velocidade, foi parando e uma multidão com roupas coloridas, me davam as boas vindas, me aplaudindo, cantando uma música, que nunca vou esquecer, dizia em seu refrão: “a esperança e a fé nunca te abandonarão/se estiverem sempre em teu coração”… acordei, sem febre, era um outro dia, fui abrindo os olhos ouvindo, ainda, ao longe a canção, depois barulho de vozes no ambiente eram da minha família, todos sorridentes com meu estado de saúde se recuperando. Só sei o que aconteceu no sonho e de tudo o que passei, fora dele, fiquei a mercê de Deus e dos cuidados minha família…”a esperança é a fé nunca te abandonarão/se estiverem sempre no teu coração.”

*David Almeida: Jornalista e Integrante da Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas (SJPAM)