Esse processo, porém, levaria décadas. “A Groenlândia vai ser o canário na mina de carvão, e o canário já está praticamente morto neste momento”, disse o glaciologista Ian Howat, da Ohio State University, um dos autores do estudo. A expressão usada pelo pesquisador faz referência ao uso de pássaros em minas para indicar os níveis de gases tóxicos.
O Ártico tem se aquecido pelo menos duas vezes mais rápido que o resto do mundo nos últimos 30 anos, uma observação conhecida como amplificação do Ártico. O gelo marinho polar atingiu sua menor extensão em julho passado (verão no hemisfério norte) dos últimos 40 anos. O degelo do Ártico trouxe mais água para a região, abrindo rotas para o tráfego marítimo, bem como aumentou o interesse na extração de combustíveis fósseis e outros recursos naturais.
Ao estudar imagens de satélite das geleiras, os pesquisadores notaram que as geleiras tinham 50% de chance de recuperar a massa antes de 2000, mas as chances vêm diminuindo desde então. “Ainda estamos drenando mais gelo agora do que o que foi ganho com o acúmulo de neve em ‘bons’ anos”, disse a autora principal Michalea King, uma glaciologista da Ohio State University.
As descobertas preocupantes devem estimular os governos a se preparar para a elevação do nível do mar, disse King. “As coisas que acontecem nas regiões polares não ficam nas regiões polares”, disse ela.
A Groenlândia é estrategicamente importante para os militares dos EUA e seu sistema de alerta precoce de mísseis balísticos, já que a rota mais curta da Europa para a América do Norte passa pela ilha do Ártico. No ano passado, o presidente Donald Trump ofereceu a compra da Groenlândia, um território dinamarquês autônomo. Mas a Dinamarca, um aliado dos EUA, rejeitou a oferta.
Os cientistas se preocupam com o destino da Groenlândia, dada a quantidade de água presa no gelo. O novo estudo sugere que o manto de gelo do território agora ganhará massa apenas uma vez a cada 100 anos – um indicador sombrio de como é difícil fazer crescer novamente as geleiras depois que elas apresentam hemorragia de gelo.
Ainda assim, o mundo pode reduzir as emissões para desacelerar a mudança climática, disseram os cientistas. Mesmo que a Groenlândia não consiga recuperar a massa gelada que cobriu seus 2 milhões de quilômetros quadrados, conter o aumento da temperatura global pode diminuir a taxa de perda de gelo.
“Quando pensamos em ação climática, não estamos falando sobre reconstruir a camada de gelo da Groenlândia”, disse Twila Moon, uma glacióloga do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo que não participou do estudo. “Estamos falando sobre a rapidez com que o aumento do nível do mar atinge nossas comunidades, nossa infraestrutura e nossas casas.”
FONTE: Estadão Conteúdo