No Amazonas, Estado de acordos políticos surpreendentes e de desacordos pré-eleitorais, o prefeito David Almeida (Avante) e os senadores Eduardo Braga (MDB) e Omar Aziz (PSD) vêm promovendo uma reaproximação, objetivando a governança da cidade de Manaus e com possibilidade de pactos eleitorais para as eleições municipais de 2024 e ao governo estadual em 2026. Porém, a história da política local mostra que nem sempre os acordos em períodos pré-eleitorais foram confirmados nas eleições.
No fim da década de 80, tudo pronto para as eleições de 1990, Amazonino declara apoio ao empresário da Comunicação, Umberto Calderaro Filho para o governo do Estado. Uma euforia tomou conta do grupo Rede Calderaro de Comunicação – RCC. O jornal A Crítica publicou manchetes com adesões de empresários e de prefeitos. Mas, a declaração de Amazonino não prosperou. O apoio não demorou. Calderaro deixou de ser o candidato indicado por Amazonino. Mendes abraçou o retorno de Gilberto Mestrinho ao governo do Amazonas. Não foi a primeira e não será a última vez que acordos lançados e apoios declarados viraram pó.
Também, nas vésperas das eleições de 1994, Bernardo Cabral, que tinha se envolvido em um escândalo amoroso com a então ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, e participado de um governo federal que confiscou a poupança dos brasileiros, anunciava a união com o deputado Nonato Oliveira. Cabral disputaria a vaga para o Senado Federal e Nonato era candidato ao governo. Essa união não demorou. Cabral deixou Nonato Oliveira, antes das convenções partidárias, e foi compor com Amazonino. Foram eleitos: Amazonino para o governo, Jefferson Péres e Bernardo Cabral para o Senado Federal. Derrotados: Nonato Oliveira para o governo, Serafim Corrêa e Félix Valois, que disputavam o Senado federal.
Em 1998, às vésperas das eleições gerais, Serafim Corrêa, Gilberto Mestrinho e Arthur Neto, comemoravam a união política para vencer o grupo do então governador Amazonino Mendes e impedir a sua reeleição. Essa união não demorou muito, Mestrinho e Arthur “largaram” Serafim no meio do caminho e foram coligar com Amazonino. Serafim, naquele ano, foi candidato a vice-governador na chapa de Eduardo Braga e o ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Marcus Barros disputou a vaga para o Senado Federal. Arthur, Amazonino e Gilberto foram eleitos.
Existem, ainda, outros exemplos de mudança de rumos nos acordos anunciados. Na eleição municipal de 2016, o MDB tinha o candidato a prefeito de Manaus com reais condições de vencer, o deputado federal Marcos Rotta. O chefe do MDB, senador Eduardo Braga, fez composição com o prefeito da época, Arthur Neto, e defendeu a reeleição de Arthur e indicou Rotta como vice-prefeito. Braga esperava o apoio de Arthur para voltar ao comando do governo estadual. Isso não aconteceu. Arthur venceu, Rotta terminou o mandato isolado e Arthur não apoiou Eduardo Braga.
Recentemente, o pré-candidato Amazonino Mendes, acreditava e declarava que seria candidato ao governo do Amazonas pelo partido União Brasil – UB, com tempo de televisão enorme e com recursos eleitorais para fazer campanha, sendo Pauderney Avelino, o anfitrião do ex-governador. Não foi surpresa para alguns políticos a filiação do governador Wilson Lima ao União Brasil, com adesões de outros partidos, deixando o ex-governador sem muitas opções para coligar. O resultado todo mundo sabe.
Agora, Eduardo Braga, Omar Aziz e David Almeida buscam reaproximação. Já foram correligionários no passado e estiveram no mesmo palanque. A união dos três políticos tem muita força: tempo de televisão, prefeitos, governo federal, recursos partidários para fazer campanha e portais e blogs alinhados, além de militância e grupos sociais organizados. O passado e o presente possuem interesses diversos e, dependendo da conjuntura e da ambição pelo Poder, uma aliança política pode deslanchar ou não. O tempo dirá.
Carlos Santiago – Sociólogo, Analista Político e Advogado