Coronavírus: mais de 1.700 agentes de saúde infectados na China

Desde o início da epidemia de pneumonia viral, o número de mortes do coronavírus aumentou para mais de 1.500 vítimas e mais de 66.000 casos de contaminação registrados na China. Entre os infectados, muitos profissionais de saúde, principalmente devido à falta de recursos médicos nos hospitais.

Segundo Stéphane Lagarde, correspondente da RFI na China, mais e mais leitos nos hospitais de Wuhan são ocupados por médicos e enfermeiros infectados por seus pacientes.

“Atualmente, as tarefas dos médicos são extremamente pesadas, as condições de trabalho são difíceis, as pressões psicológicas são grandes e o risco de infecção é alto”, reconheceu o vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde, Zheng Yixin, em uma coletiva de imprensa na noite de sexta-feira.

O Covid-19 infectou mais de 1.700 agentes de saúde, a maioria na província de Hubei (87%) e 6 morreram de pneumonia viral, incluindo Li Wenliang, um jovem oftalmologista entre os primeiros a alertar o epidemia. Seu desaparecimento na semana passada causou furor e, desde então, depoimentos de seus estagiários invadiram as redes sociais.

“O andar onde sou tratado é essencialmente preenchido com meus colegas doentes”, diz uma enfermeira do hospital central de Wuhan, na rede social Sina Weibo. Segundo ela, “são principalmente quartos duplos ou triplos, com os nomes e o número de camas dos meus colegas claramente escritos em preto e branco nas portas”.

Exaustão dos profissionais de saúde e falta de recursos médicos

Na falta de equipamentos de proteção, o sistema de saúde fica sobrecarregado pela escala do desastre sanitário, e o pessoal infectado representa uma porcentagem significativa de doentes em determinados estabelecimentos. No Hospital Zhongnan, uma das 61 instituições da capital de Hubei, responsável pelo tratamento de pacientes infectados com o coronavírus, 30% dos infectados são profissionais de saúde.

No hospital Wuhan, dois terços da equipe da UTI foram infectados devido à falta de recursos médicos, segundo declarou o diretor de terapia intensiva à rede de televisão CNN.

Além disso, há a carga de trabalho esmagadora, o esgotamento das equipes no front e o baixo moral entre os funcionários, que não foram informados desde o início do alto grau de contágio causado pelo novo coronavírus, disse Zhong Nanshan, o descobridor chinês do SARS.

A Comissão Nacional de Saúde acaba de anunciar uma indenização para os parentes de trabalhadores da saúde falecidos, um aumento nos prêmios de risco para os trabalhadores da linha de frente, bem como um subsídio para os agentes de saúde, que toda a China considera agora como heróis.

Quarentena em Pequim

A entrada em Pequim ainda é possível, mas se você estiver na cidade, precisará ficar em casa ou em um quarto de hotel por 14 dias. Uma medida extraordinária relatada por um diário oficial vinculado ao Partido Comunista Chinês, o Beijing Daily.

Este jornal propõe sanções contra os infratores se a quarentena não for respeitada. Estamos falando de Pequim, com mais de 20 milhões de habitantes, uma grande encruzilhada industrial, econômica e comercial com tráfego intenso. Pode-se realmente aplicar uma decisão dessa magnitude?

O médico Marc Gastellu-Etchegorry, do centro de epidemiologia dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), não acredita nisso: “Se você usar apenas sistemas de coerção e se as pessoas não participarem de maneira ativa desse controle, não dará certo. O que você faria se sua família dependesse do seu trabalho? Até os chineses, com um regime político bastante severo, terão sucesso em escapar. Vimos isso em Wuhan. Eles decretaram o isolamento da cidade, e há cinco milhões de pessoas que conseguiram fugir antes.”

Entre 25 de janeiro e 14 de fevereiro, mais de 280 milhões de viagens foram registradas na China, segundo o Ministério dos Transportes da China. Para onde foram esses viajantes? Eles ficaram longe de áreas ou pacientes infectados? Improvável e impossível garantir isso no momento.

Fonte: RFI