Conheça os riscos da dieta radical que matou influenciadora vegana

Dietas radicais podem levar a quadros de desnutrição

A morte da influenciadora vegana Zhanna Samsonova, aos 39 anos, chamou atenção para os perigos de dietas extremamente restritivas, como a que ela seguia havia vários anos.

Segundo o tabloide americano New York Post, Zhanna não ingeria nenhum alimento que fosse cozido, além de limitar as poucas opções cruas que restavam.

Ela vivia no sudeste da Ásia, supostamente alimentando-se exclusivamente de frutas, brotos de sementes de girassol, sucos e smoothies nos últimos cinco anos.

O princípio do regime adotado pela influenciadora é o da chamada dieta crudívora, ou dieta vegana crua, que consiste em comer alimentos que não sejam submetidos a temperaturas maiores do que 48°C. O objetivo seria preservar os nutrientes desses ingredientes.

A dieta vegana crua ainda estimula o consumo de frutas, legumes, verduras, nozes, sementes e outros alimentos não processados.

Algumas famosas, como as atrizes Gwyneth Paltrow e Demi Moore, são adeptas desse regime alimentar, que ganhou popularidade recentemente.

Cozinhar ou não?

A nutricionista Laura Brown, da Universidade de Teesside, no Reino Unido, ressalta que há evidências de que “dietas à base de vegetais (incluindo dietas veganas) podem trazer muitos benefícios para a saúde”, mas chama atenção para o fato de que “algumas pessoas estão levando a dieta vegana ao extremo, optando por comer apenas alimentos vegetais crus” e que “alguns também excluem alimentos que foram alterados em sua forma natural ou processados ​​(como aveia ou leite de amêndoa)”, escreveu em um artigo no fim de 2022 no site The Conversation.

Primeiramente, a especialista explicou que, sim, há vegetais que podem perder nutrientes durante o cozimento. Porém, outros têm um maior teor quando são cozidos.

“Isso ocorre porque alguns nutrientes estão presos dentro das paredes celulares dos vegetais. Cozinhar quebra as paredes celulares, permitindo que os nutrientes sejam liberados e mais facilmente absorvidos pelo corpo”, afirmou.

Segundo o artigo, vegetais cozidos podem fornecer ao corpo mais antioxidantes, como betacaroteno, luteína e licopeno, que combatem moléculas nocivas chamadas radicais livres e reduzem o risco de doenças crônicas.

O licopeno, por exemplo, tem sido associado a um menor risco de uma série de doenças crônicas, incluindo doenças cardiovasculares e câncer.

Os riscos

Embora a dieta crudívora tenha se tornado uma moda nos últimos anos, ela não é algo novo. Em 1992, pesquisadores estudaram os efeitos desse regime no organismo. Os resultados, publicados no The Journal of Nutrition, sugerem que ela causa uma diminuição nas enzimas bacterianas intestinais e em certos produtos tóxicos que têm sido implicados no risco de câncer de cólon.

Segundo os pesquisadores, pessoas que seguiam essa dieta vegana extrema tiveram a redução das enzimas logo na primeira semana, um padrão que se manteve durante todo o período em que seguiram essa alimentação.

A mudança para uma dieta convencional restabeleceu as atividades das enzimas no intestino a níveis normais em duas semanas, e as concentrações de substâncias tóxicas no sangue e a produção de urina voltaram ao normal após um mês.

Ainda em seu artigo, Laura Brown alega que é provável que as dietas veganas cruas careçam de nutrientes importantes, como vitaminas B12 e D, selênio, zinco, ferro e ácidos graxos Ômega-3, que são essenciais para a estrutura, o desenvolvimento e o suporte do sistema imunológico do cérebro e das células nervosas.

“De particular preocupação são os níveis de vitamina B12. Um estudo sobre pessoas que seguiram dietas estritas de alimentos crus descobriu que 38% dos participantes eram deficientes em vitamina B12. Isso é preocupante, especialmente porque a deficiência de vitamina B12 está associada a uma série de problemas, incluindo icterícia, úlceras na boca, problemas de visão, depressão e outras alterações de humor”, justificou.

O mesmo estudo demonstrou que a dieta vegana crua estrita pode levar ao aumento dos níveis de homocisteína devido à deficiência de vitamina B12, aumentando potencialmente o risco de doenças cardiovasculares e derrames.

Outro grupo de pesquisadores descobriu que 30% das mulheres com menos de 45 anos que seguiram uma dieta de alimentos crus por mais de três anos deixaram completamente de menstruar, provavelmente devido à perda de peso causada pela dieta crua vegana, que pode levar à infertilidade, à redução da densidade óssea e à osteoporose.

“Embora seguir uma dieta baseada em vegetais possa trazer muitos benefícios para a saúde, a dieta vegana crua pode estar levando as coisas um pouco longe demais e pode trazer riscos ainda maiores se não for seguida com cuidado. Se você planeja fazer uma dieta vegana crua, é importante ter cuidado para garantir que está consumindo todos os nutrientes necessários para uma saúde ideal, nas quantidades necessárias. Eu também não recomendaria segui-la por um longo período por causa dos muitos riscos que ela pode ter”, recomenda a especialista.