Congressistas reagem: ‘Ou o mundo inteiro está errado ou Bolsonaro está prestando um desserviço à nação’

O presidente Jair Bolsonaro critica o isolamento social no combate ao coronavírus. ─ Imagem: Reprodução

BRASÍLIA – Líderes do Congresso reagiram à declaração do presidente Jair Bolsonaro, na manhã desta quarta-feira. Ele repetiu pontos do pronunciamento da noite de ontem, reforçando que apenas idosos deveriam ficar isolados, e disse que a crise pode levar o país a sair da “normalidade democrática”. Para parlamentares, “ou o mundo inteiro está errado e Bolsonaro está certo ou ele está prestando um desserviço à nação”

A frase acima é do líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), que, apesar do rompimento com filhos do presidente em meio ao racha no partido, ainda se considera aliado de Bolsonaro e defende medidas dele no Congresso.

– As manifestações dele são contrárias a tudo que se diz no mundo inteiro. Se ele tiver certo, adiaram a Olimpíada, por causa de uma gripezinha; a Índia colocou em isolamento um bilhão de pessoas, por causa de uma gripezinha; os Estados Unidos suspenderam voo, por causa de uma gripezinha, que só contagia velho, que não afeta ex-atletas. Ou o mundo está errado e o presidente certo. Ou ele está prestando desserviço à nação. Continuo pedindo: acreditem 100% nas declarações do ministro Mandetta e fiquem em casa – diz Olímpio.

Para ele, os últimos pronunciamentos de Bolsonaro lembram o Sai de Baixo, programa da Globo.

– Quando o personagem Caco Antibes, de repente, levantava e gritava: ‘Cala a boca, Magda’. Sintetiza o meu pensamento, com muita tristeza, porque sou aliado de primeira hora dele.

Presidente em exercício do Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG) disse nesta quarta-feira que não há hipótese de o país “sair da normalidade democrática”, como cogitou pela manhã o presidente Jair Bolsonaro. Segundo ele, todos são “escravos” da Constituição.

— Eu não acredito. Eu sou uma pessoa, até mesmo pela minha formação jurídica, totalmente vinculada à Constituição. Sou dela escravo e assim continuarei. Há temas que nem discuto, considero inexistentes. Nós todos somos obrigados a resguardar e seguir a Constituição. Aliás, foi o nosso juramento — disse Anastasia.

A presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Simone Tebet (MS) diz que Bolsonaro “errou no timing, na forma e no conteúdo”.

– Agora, é hora de ficar em casa para salvar vidas. Enquanto isso, estamos votando projetos que liberam dinheiro extra para a saúde e subsídios para as empresas, a fim de proteger os mais vulneráveis e garantir empregos – avalia a senadora.

Para o líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a fala da manhã é “insana”.

– Ele aposta no conflito. Temos de ser firmes e não cair no que ele fala. Tocar o Brasil, apesar dele. Bolsonaro passou de todos os limites da racionalidade, da humanidade. Não é mais um presidente da República. É um candidato a genocida.

Líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), diz que “Bolsonaro falou para outro Brasil”.

– O Brasil que eu vejo é onde as escolas estão fechadas, do comércio que aceitou se trancar para reduzir a curva de contágio. Ele quis comparar com a linha do Trump, mas o Trump fez uma programação para reduzir o “lockdown” pela páscoa. Faltou isso, o Bolsonaro construir com o gabinete de crise dele a ideia de fazer uma volta progressiva. Da forma como foi feita, ele foi contra as orientações do próprio governo – diz o líder.

Líder do MDB na Câmara, o deputado Baleia Rossi (SP) reforçou a necessidade de seguir orientações do Ministério da Saúde e de especialistas.

— Fiz uma declaração ontem no meu Twitter e a mantenho. Acho que temos que continuar seguindo as orientações do Ministério da Saúde, que são embasadas em técnicos da área e médicos renomados e da Organização Mundial da Saúde. Temos que seguir as orientações daqueles que estudaram a vida inteira para esse tipo de enfrentamento.

Líder do PDT no Senado, Weverton Rocha (MA) diz que “o presidente precisa de parar de fazer política e começar a usar os recursos que foram autorizados pelo Congresso, quando aprovamos o decreto de calamidade pública no Brasil, para socorrer as pessoas e as empresas”.

– O coronavírus é um inimigo real e o presidente tem os instrumentos para combater e salvar vidas. Mas prefere matar pessoas que abrir os cofres públicos – afirma.

FONTE: Agência O Globo