Com Margareth Menezes na Cultura, Janja vence queda de braço com PT

Primeira-dama usou sua influência para convencer Lula. ©Ricardo Stuckert

Janja da Silva vem dando mostras de que terá papel importante no governo do marido, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A prova mais recente da influência da primeira-dama sobre o futuro governo foi a vitória na queda de braço com o partido do presidente eleito em relação ao perfil ideal para o Ministério da Cultura.

A cantora Margareth Menezes foi convidada e aceitou assumir a pasta, que volta a ganhar status de ministério após o fim do governo de Jair Bolsonaro (PL). A cantora não era, nem de longe, o nome predileto da cúpula do PT. As diversas alas da legenda, que estão em pé de guerra e seguem irritando Lula , defendiam um nome político para ocupar a função.

Aliados do presidente eleito defendiam em reuniões que artistas não teriam condições de ampliar as políticas públicas para retomar o potencial do setor no país. “Políticos têm poder de negociação para liberação de verbas que artistas não conseguem”, lembrou uma importante diretora do partido. O iG já havia mostrado que Jandira Feghali (PCdoB) era o nome predileto da legenda .

Janja, por sua vez, defendia o nome de um artista sob o comando da pasta desde o início da campanha eleitoral. Nos bastidores, ela trabalhou por nomes importantes da área desde o minuto seguinte à vitória de Lula. Um assessor confirmou que a futura primeira-dama chegou a telefonar para alguns artistas. “Ela conversou com o Lázaro Ramos e com a própria Marieta Severo”, revelou a fonte ouvida pela coluna.

Enquanto a esposa de Lula acumulava “nãos”, a ala mais próxima do presidente no PT articulava para barrar a ideia. O petista chegou a ser convencido de que nem mesmo os artistas queriam aceitar o desafio porque o governo precisava de gente com experiência para recuperar o tempo perdido. O partido acredita que houve um desmanche na gestão de Bolsonaro e que é necessário agir rápido.

Nos bastidores de Brasília já era dado como certo que, se não Jandira, outro nome do grupo político, como Marcelo Freixo (PSB), poderia assumir a pasta. Janja manteve em mente sua ideia de entregar o ministério para os artistas. Para evitar guerra com o partido, a esposa do presidente eleito buscou perfis de nomes que cumprissem os papéis buscados. Além de ser artista, deveria conhecer minimamente a máquina pública. Foi aí que chegou ao nome de Margareth Menezes.

Já há, no entanto, reclamações de alas do PT, que gostariam do cargo para a legenda ou para aliados. Um político próximo de Lula lembrou que a cantora não tem experiência na área. Janja discorda e já mostrou a Lula o currículo da futura ministra, que inclui a criação da Associação Fábrica Cultural, de Salvador. Além disso, a primeira-dama conseguiu um relatório mostrando o desempenho de Margareth no grupo de trabalho da cultura, na transição.

Ainda assim, Menezes enfrenta resistências no campo político e não é unanimidade entre os artistas. Há quem defenda um nome mais atenado como gestor. Mesmo assim, ela já despacha como futura ministra e se reúne com representantes do setor para tentar suavizar as resistências. Sem o anúncio, porém, há quem acredite dentro do PT, que é possível reverter a nomeação. Janja, no entanto, dá o caso como favas contadas. “Quando Lula decide ele não volta atrás”, teria dito a primeira-dama a um assessor.

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