Desde terça-feira (17/4), a comunidade da Missão, no Estado do Amazonas, recebe a oitava edição do curso de Multiplicadores em Gestão Compartilhada de Recursos Pesqueiros com foco no manejo de piracucu (Arapaima gigas). A capacitação promovida pelo Instituto Mamirauá atraiu técnicos e especialistas que atuam na região do Alto e Médio Solimões, além de participantes de outros estados e até mesmo de fora do país.
Os primeiros dois dias do curso foram dedicados ao intercâmbio das experiências de manejo vivenciadas pelos participantes. Para a coordenadora do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá, Ana Cláudia Torres, esse foi um momento crucial da capacitação. “Nas outras edições nós percebemos as pessoas chegavam com muita vontade de falar de onde vinham, apresentar sua experiência e desafios enfrentados. Esse é um momento também que eles nos contam a expectativa deles em relação ao curso e nós buscamos a melhor forma para atendê-la”, disse a coordenadora.
Dando prosseguimento à programação, a Diretora de Manejo e Desenvolvimento do Instituto Mamirauá, Isabel Soares de Souza, conduziu uma discussão sobre a importância dos levantamentos socioeconômicos nas áreas manejadas. “É praticamente impossível estabelecer um projeto em uma área que não se conhece”, afirmou a diretora.
Para Isabel, os estudos prévios sobre a região são fundamentais para que um projeto de manejo de recursos naturais seja bem-sucedido. “Quanto maior o nível de conhecimento das estruturas preexistentes sobre o grupo (de pesca), menor o impacto da intervenção e maior as chances da proposta ser internalizada pelo grupo e ter continuidade, principalmente a partir do momento que a equipe técnica precisa se retirar da área”.
Expertise em ambientes de Várzea
Desde 1998, o Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), atua junto às comunidades da Reserva Mamirauá com objetivo de promover a conservação dos recursos pesqueiros por meio do manejo participativo. O modelo de manejo participativo é reconhecido como uma experiência de grande importância econômica e cultural para a região.
Ana Cláudia Torres ressalta a importância do modelo implementado na região ser analisado e ajustado à outros contextos. “Reaplicá-lo requer avaliações sobre as particularidades de cada realidade local”, afirmou.
A bióloga da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Suelen Brasil, conta que o desejo de conhecer de perto o plano de manejo na Reserva Mamirauá vem de longa data. “Já trabalhei com plano de manejo quando eu atuava na Ação Ecológica Guaporé-Ecoporé. E lá nós utilizamos o modelo implementado na Reserva Mamirauá como base. Então, eu fiquei muito feliz com a oportunidade de poder participar desse curso”, afirmou.
A programação do curso segue até 27 abril. No domingo (22), os participantes devem se deslocar para a Reserva Mamirauá, no setor Jarauá, para assistir palestras sobre fundamentos da biologia e ecologia do pirarucu, a importância da várzea para a produtividade pesqueira e outros temas. O momento também será dedicado a atividades práticas, nas quais eles poderão aprender sobre o método de contagem do pirarucu e sua importância para o manejo. Texto: Laís Maia