China retalia Argentina e abandona obra de usinas na Patagônia

A construção de obras essenciais para o futuro da Argentina foi suspensa pelo consórcio do qual faz parte a empresa China Gezhouba, cujo maior acionista (40% das ações) é uma estatal chinesa.

As obras das duas represas hidrelétricas no rio Santa Cruz, na Patagônia, eram o maior investimento chinês na Argentina, de quase U$ 5 bilhões.

Porém, o andamento da construção dependia dos aportes dos sócios locais dos chineses, a Hidrocuyo e a Eiling Energia, além da resolução de pendências com o governo argentino.

De acordo com um comunicado emitido pela UTE Represas Patagonia, as obras haviam sido pausadas em novembro do ano passado e, com a troca de governo na Casa Rosada, as negociações pela retomada ficaram paralisadas.

Com isso, a empresa decidiu demitir 1.800 operários. A companhia chinesa repatriou seu pessoal da Argentina, inclusive diretores e engenheiros.

O comunicado, na tradicional linguagem diplomática chinesa, diz que eventualmente as obras serão retomadas.

PACOTE COMPLETO

O investimento chinês faz parte de um pacote negociado com a ex-presidente Cristina Kirchner.

Incluía o chamado swap cambial para ajudar a Argentina a pagar sua dívida externa (U$ 18 bilhões), a construção das duas hidrelétricas — que começou em 2013 — e a modernização da estatal ferroviária Belgrano Cargas.

Foi este pacote de investimento em obras de infraestrutura que fez investidores passarem a se referir à “Argenchina”.

Quando Mauricio Macri, de direita, substituiu Cristina na Casa Rosada, as obras entraram em compasso de espera.

Os chineses esperavam a retomada com Alberto Fernandez, o que aconteceu apenas parcialmente.

Na campanha de 2023, Javier Milei disse que deixaria de fazer negócios públicos com “paises comunistas” e colocou a China e o Brasil na lista.

Além disso, a chanceler Diana Mondino recebeu em audiência em Buenos Aires o representante comercial de Taiwan, o que causou fúria em Beijing.

A China acabou abandonando o swap cambial e, agora, parece ter desistido do pacote de investimentos, que totaliza U$ 30 bilhões.

Por seu turno, o governo Milei fechou um convênio com o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos para receber ajuda na administração e expansão da hidrovia Paraná-Paraguai em território argentino.

É mais um passo rumo a relações carnais com Washington.

O portal La Politica Online disse que a China poderia ir à Justiça por U$ 30 bilhões e citou um diplomata argentino não identificado, que disse:

O posicionamento geopolítico de Milei se agrava diante da possibilidade de Donald Trump recuperar a presidência dos Estados Unidos. Seu alinhamento total com o republicano não é um tema menor para Xi Jinping.

O portal colocou no pacote de retaliações da China a decisão de Beijing de eliminar a cobrança de tarifas de 17% a 34% sobre a importação de carne de frango brasileira, tomada em fevereiro.

No início desta semana, a China habilitou mais 38 frigoríficos brasileiros para exportar carne de boi.

A suspeita é de que os chineses reduzirão suas importações de carne e soja da Argentina.

Se isso acontecer, as províncias mais prejudicadas serão as de Catamarca, Entre Rios e La Pampa, cujas exportações para a China representam 45%, 22% e 20% do total.

Rogelio Frigerio, governador de Entre Rios, elegeu-se como apoiador de Milei mas faz parte do grupo de governadores que batem cabeça com o presidente por conta da redução das transferências de dinheiro federal.