Chile confirmou que o avião desaparecido caiu no mar e que não há sobreviventes

O Hércules C-130 saíra da cidade de Punta Arenas, às 16h53 (horário de Brasília) e após pouco mais de uma hora de voo, às 18h15, perdeu contato com a base de controle.

CHILE – Passadas 48 horas do mais grave acidente com um avião militar chileno, a Força Aérea do Chile (FACH) confirmou a descoberta de restos humanos e de um avião que pode corresponder ao que transportava 38 pessoas e caiu na segunda-feira no turbulento mar de Drake, a caminho da Antártica. Primeiro, as autoridades divulgaram na quarta-feira que o navio Antartic Endevour, de bandeira chilena, encontrou pedaços de esponja flutuando no mar. Os peritos investigam se correspondem ao interior dos tanques de combustível das asas do Hercules C-130. Os materiais foram localizados a 30 quilômetros ao sul do local onde ocorreu o úlimo contato por rádio, em uma zona marítima de 3.200 metros de profundidade.

“Na tarde de hoje, a Força Aérea nos enviou uma notícia que nos deixou consternados: a descoberta de corpos no mar de Drake e também de parte da fuselagem que corresponde ao avião sinistrado”, explicou o prefeito da região chilena de Magallanes, José Fernández. O prefeito disse ter recebido as informações da FACH, que ainda não se pronunciou publicamente sobre este novo achado, mas que informou os parentes dos ocupantes do avião, segundo a autoridade regional.

“Estão sendo feitas avaliações para determinar se corresponde ao avião desaparecido”, informou Eduardo Mosqueira, general de brigada da Força Aérea, na base aérea de Chabunco, na cidade de Punta Arenas, extremo sul do Chile continental. Essa é a base das operações dos intensos esforços de busca e resgate que mobilizaram navios, aviões e satélites do Chile e do exterior. Segundo as autoridades, em cerca de 48 horas pode ser determinado com certeza se a esponja encontrada pertencia à aeronave desaparecida. Enquanto isso, um navio oferecido pelo Governo brasileiro, Almirante Maximiano, permitirá rastrear o fundo subaquático, cuja profundidade não permite a ação de mergulhadores.

Parentes de tripulantes do avião militar que desapareceu na Antártica chegam à base militar em Punta Arenas, no Chile ─ FOTO: JOEL ESTAY/AFP

Minutos depois de a FACH entregar as informações oficiais, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, pelo Twitter, acrescentou que a Marinha brasileira localizou “itens pessoais e destroços compatíveis” com o Hercules C-130. “O Ministério da Defesa informa que o Navio Polar Almirante Maximiano Polar Vessel recolheu, por volta das 15h45min, itens pessoais e destroços compatíveis com o avião Hercules C-130 da Força Aérea do Chile”, afirmou Bolsonaro. “As partes e objetos do avião estavam a aproximadamente 280 milhas náuticas (518 km) de Ushuaia, na Argentina. O navio da Marinha do Brasil permanece na área de busca em ações coordenadas com as autoridades chilenas e duas lanchas do navio continuam a recolher destroços”, acrescentou.

O Hercules C-130 decolou de Chabunco na segunda-feira e foi para a base antártica chilena Presidente Eduardo Frei Montalva para fornecer apoio logístico, como a revisão do oleoduto flutuante de abastecimento de combustível e o tratamento anticorrosivo das instalações. No meio da jornada, depois de ter percorrido 700 quilômetros e faltando outros 500 para chegar ao destino, perdeu o contato por rádio. Eram 18h13 (hora local) e ainda faltava uma hora e quatro minutos para o pouso. Os dois pilotos eram experientes, segundo informou a FACH e o Ministério da Defesa do Chile, por isso, não há pistas evidentes sobre as razões do acidente, que está sendo investigado pelos militares e o Ministério Público.

Das 38 pessoas a bordo, 17 eram tripulantes e as demais, passageiros: 15 da FACH, três do Exército e três civis (um estudante da Universidade de Magalhães que estava viajando para a Antártica para conduzir uma pesquisa e dois trabalhadores de uma empresa de engenharia). Nesta quarta-feira, 69 parentes dos desaparecidos chegaram a Punta Arenas para conhecer os detalhes das operações na área, que durante o dia puderam transcorrer sob melhores condições climáticas. Em razão da proximidade do Polo Sul, nesta época do ano à noite não fica escuro —o que permite trabalhar 24 horas seguidas—, mas as ondas no mar de Drake podem chegar a seis metros de altura, como aconteceu quando se iniciaram as operações de busca e resgate.

O acidente aéreo de segunda-feira foi o mais grave sofrido por um avião militar chileno. O último acidente envolvendo uma aeronave da FACH ocorrera em 2 de setembro de 2011, quando chegavam à ilha de Juan Fernández, no meio do Pacífico, causando a morte de todos a bordo 18 passageiros e três tripulantes. Das tragédias aéreas no Chile, a que deixou o maior número de mortes foi a de uma aeronave comercial da empresa Aeronor que em 1982 sofreu um acidente em La Serena —cerca de 500 quilômetros ao norte de Santiago—, causando 46 mortes.

Por EL PAÍS