Cantor Tony Bannett morre aos 96 anos

Morreu, aos 96 anos, o astro da música pop e do jazz Tony Bennett, em Nova York, confirmou um assessor do artista, nesta sexta-feira. Bennett foi diagnosticado com a doença de Alzheimer em 2016, mas continuou a se apresentar e gravar até 2021. Na época, ele escreveu no Twitter: “A vida é um presente – mesmo com Alzheimer”. No entanto, embora estivesse com a função cognitiva prejudicada, ele ainda era capaz de cantar o repertório.

Voz que defendeu, por anos a fio, a sofisticada canção americana do século XX (de compositores como Jerome Kern, Irving Berlin, George Gershwin, Richard Rodgers, Cole Porter, Hoagy Carmichael e Harold Arlen, além de ter cantado ao lado de Frank Sinatra, Amy Winehouse e Lady Gaga, ele vendeu milhões de discos em todo o mundo e ganhou 20 Grammys, incluindo um prêmio pelo conjunto da obra.

‘O cantor mais popular do mundo’

Com mais de 70 anos de carreira, Bennett chegou a ser chamado de “o maior cantor popular do mundo” por Sinatra. Até 2009, vendeu mais de 50 milhões de discos. Ele ficou mais mais conhecido no mundo pela gravação de 1962 de “I left my heart in San Francisco”, até hoje sua canção mais popular.

A “Variety” destacou que o artista foi um dos principais do segmento pop nos anos 1950 e início dos anos 1960. No entanto, retomou o estrelato nos anos 1990, sob a gestão do filho, Danny. Ele também voltou aos holofotes da música mundial ao gravar um dueto de “Body and Soul” com Amy Winehouse. Também lançou um álbum com Diana Kral e gravou canções com Lady Gaga.

A última aparição pública do artista foi com Gaga, no Radio City Music Hall em agosto de 2021. O último lançamento de sua carreira ocorreu dois meses antes disso — um set de “Love For Sale”, sequência de “Cheek to Cheek” que alcançou o topo das paradas de 2014.

Vida e obra de Tony Bennett

Tony Bennett nasceu Anthony Dominick Benedetto em 1926. Filho de imigrantes italianos, ele teve uma educação pobre em Queens, em Nova York. Seu pai morreu quando ele tinha 10 anos, quando o menino já cantava profissionalmente. Na adolescência, ele se tornou um garçom cantor, ganhando dinheiro para a família antes de se matricular para estudar música e pintura na Escola de Arte Industrial de Nova York.

Depois de servir nos estágios finais da Segunda Guerra Mundial como soldado de infantaria do Exército dos EUA na Alemanha e na França (a experiência com a guerra, que ele definiu certa vez como “assassinato legalizado”, o traumatizou pela resto da vida) , Bennett começou sua carreira como cantor de canções pop comerciais (inicialmente com o nome de Joe Bari) e depois acabou assinando com a Columbia Records.

Seu primeiro grande sucesso veio em 1951 com Because of You, que ganhou popularidade nas jukeboxes, depois alcançou o primeiro lugar nas paradas pop, vendendo mais de um milhão de cópias.

Os sucessos continuaram ao longo da década: “Blue velvet”, “Rags to riches”, nos quais buscou igualar-se o suingue de seu herói de infância, Frank Sinatra. Nos 50, também, ele lançou álbuns que virariam clássicos, como “The beat of my heart” e “Basie wings, Bennett sings”.

Logo, Tony Bennett se tornou um ídolo adolescente e, quando se casou com sua primeira esposa, Patricia Beech, em 1952, milhares de fãs se vestiram de preto para “lamentar” a cerimônia.

Sua carreira sofreu um golpe em meados dos anos 60, com a chegada às paradas americanas do rock de bandas inglesas como os Beatles e os Rolling Stones. Nos 70, ele enfrentou uma série de problemas pessoais, incluindo o fim de seu segundo casamento e um sério vício em drogas. No entanto, dois álbuns gravados com o pianista Bill Evans (em 1975 e 1976) seriam a chave para seu ressurgimento como uma figura central na música dos Estados Unidos.

A virada vida veio quando Tony Bennett contratou o filho Danny para ser seu empresário. Seu álbum da volta, “The art of excellence” (1986), devolveu-o de vez o sucesso. “Perfectly Frank” (1992) – uma homenagem a Frank Sinatra – liderou as paradas de jazz da Billboard dos EUA, enquanto o “MTV Unplugged”, de 1994 viu Bennett ganhar um Grammy de álbum do ano.

A partir daí, o cantor tornou-se uma presença constante nas TVs e colaborou com uma série de artistas como kd lang, Amy Winehouse, Queen Latifah e Diana Krall, que ajudaram a manter sua relevância com artistas mais jovens. Seu álbum de 2006, “Duets: An American Classic”, contou com participações de Paul McCartney, Elton John e George Michael.

Admirador da cantora Leny Andrade, Tony Bennett chegou a gravar o clássico de Milton Nascimento, “Travessia” (com letra em inglês, “Bridges”), e veio ao Brasil algumas vezes. Em 1979, deu canjas em boates cariocas em apresentações dos pianistas Luiz Eça e Osmar Milito. Em 2012, gravou em Miami duetos com Ana Carolina e Maria Gadu para o disco “Viva duets”.

Além de cantar, Tony Bennett foi um exímio pintor, com telas expostas no Smithsonian Institution e no Butler Institute of American Art. Em 2001, ele fundou a Frank Sinatra School of the Arts em Queens, Nova York, que oferece formação em artes plásticas, dança, música vocal e instrumental, teatro e cinema.

Democrata por toda a vida, Bennett apoiou o movimento dos direitos civis, participou das marchas de Selma a Montgomery em 1965, e se recusou a se apresentar na África do Sul da era do apartheid.