Dois jovens brasileiros, Luckas Viana dos Santos e Phelipe de Moura Ferreira, se tornaram vítimas de tráfico humano em Mianmar após aceitarem falsas propostas de emprego na área de tecnologia na Tailândia. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, declarou que não é de sua competência realizar o resgate, mas sim pressionar as autoridades locais para agir.
A assessoria do Itamaraty informou ao site UOL que “operações de busca e resgate cabem às polícias locais, não à embaixada brasileira”. No entanto, o ministério tem realizado “várias gestões junto ao governo de Mianmar para localizar e resgatar os brasileiros”, ressaltando que tais ações são de responsabilidade das autoridades locais.
Familiares das vítimas expressam frustração com respostas vagas e protocolares do governo brasileiro. Antônio Carlos Ferreira, pai de Phelipe, questiona: “Será então que Mianmar não tem lei?!”, indicando a sensação de impotência diante da falta de ação efetiva.
O contexto de tráfico humano em Mianmar não é isolado, com a ONU estimando que cerca de 120 mil pessoas são mantidas em condições análogas à escravidão no país. Essas vítimas enfrentam abusos severos, incluindo tortura, trabalho forçado e violações dos direitos humanos, conforme um comunicado da ONU de agosto de 2023.
A situação é agravada pelo regime militar que controla Mianmar desde o golpe de 2021, tornando os resgates ainda mais complexos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) condenou o regime por continuar a impor trabalho forçado e por não garantir proteções básicas de direitos humanos.
Os brasileiros traficados, segundo relatos de familiares, são forçados a participar de esquemas de golpes financeiros virtuais, utilizando aplicativos de mensagem para enganar vítimas ao redor do mundo. Ana Paula, prima de Luckas, reportou que ele sofreu punições físicas por tentar buscar ajuda, enquanto Phelipe confidenciou ao pai pensamentos suicidas devido às condições extremas e ameaças de morte que ambos enfrentam.
As embaixadas brasileiras, limitadas por tratados internacionais e legislações locais, não podem interferir diretamente para libertar cidadãos detidos ou investigar crimes, o que complica ainda mais a situação para as famílias desesperadas por respostas e ação efetiva.