Bolas de fogo assustam a população em Pernambuco

Bolas de fogo aparecem para moradores de Cupira ─ Créditos: TV Jornal Interior

A aparição de bolas de fogo em áreas rurais e urbanas de Cupira, no agreste de Pernambuco, tem assustado moradores da cidade. Os mais antigos acreditam que as tochas são almas que não conseguiram encontrar descanso. Outra hipótese aventada traz a história de uma lenda local, em que as tochas seriam as almas de uma comadre e um compadre que tiveram um relacionamento e morreram como forma de castigo pelo pecado. Seus espíritos teriam voltado na forma de fogo.

Eu já vi um bocado. É uma bola de fogo. É pequena, depois vai aumentando e fica bem grande. Ela fica andando e não mexe com ninguém“, contou o agricultor Adeildo Manoel. Alguns não têm medo, mas outros ficam apavorados com as aparições. O aposentado Hermes Gouveia ficou assombrado quando viu pela primeira vez. “Deu vontade de correr, mas eu estava com um camarada e ele disse ‘não corre não, rapaz, deixa, não faz medo não‘”, relembrou. O momento em que os moradores mais costumam ver as tochas é quando estão reunidos em frente de casa conversando, no fim do dia.

Apesar de várias aparições acontecerem na zona rural, a costureira Josefa Creuza alega ter visto as bolas de fogo na área urbana. Por volta das 21h00, ela ia para a casa da irmã, que mora na frente de uma rodovia. “Eu vi duas bolas de fogo na pista. Até então eu pensei que era alguém que tinha tocado fogo nos matos. Aí eu fiquei olhando, curiosa, só que do nada elas se afastavam e depois se juntavam de novo. Elas foram se batendo uma na outra, depois foram crescendo e depois sumiram”, contou. Depois disto, ela correu para casa.

O radialista Airton Lira cresceu ouvindo as histórias do pai sobre a tocha. “Eu lembro de que meu pai me chamava, chegava à noite e dizia: ‘vamos olhar a tocha, ela já está ali’. Tinha uma serra na frente e a gente ficava olhando. Elas começavam a se juntar, bater uma na outra. Eu vi muitas vezes”, garantiu.

Explicação

Apesar de muitas pessoas acreditarem que se trata de algo sobrenatural, a ciência explica o que podem ser as bolas de fogo:  inflamações espontâneas do gás no pântano, resultado da decomposição de plantas e animais no local. O fogo-fátuo, como sabemos, é uma manifestação luminosa ocasionada pela decomposição de matéria orgânica. Os gases metano e fosfina entram em combustão em contato com o ar, causando uma pequena explosão que libera uma luz de tonalidade azul, que é produzida rente ao solo e se desloca horizontalmente em combustão, consumindo-se em poucos segundos. Essa chama pode dar a impressão de perseguir a testemunha se esta correr, deslocando o ar que a puxará em sua direção. Observa-se o fogo fátuo mais frequentemente em cemitérios e vales de rios. Nos pântanos de Cupira, no agreste Pernambucano, a existência de matéria orgânica em decomposição poderia creditar tal explicação.

No processo do fogo fátuo as bactérias que metabolizam a matéria orgânica produzem gases que entram em combustão espontânea em contato com o ar. “Ocorre uma pequena explosão e a chama azulada vem acompanhada de um estrondo que assusta quem está por perto”, afirma o químico Luiz Henrique Ferreira, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Com tudo isso, não é de se espantar que o fenômeno alimente lendas de fantasmas, assombrações e almas penadas. No Brasil, ele deu origem a um dos primeiros mitos indígenas de que se tem notícia: o boitatá, a enorme serpente de fogo que mata quem destrói as florestas.

O fogo-fátuo chegou a ser descrito, ainda em 1560, pelo jesuíta português José de Anchieta: “Junto do mar e dos rios, não se vê outra coisa senão o boitatá, o facho cintilante de fogo que rapidamente acomete os índios e mata-os.”

Por INTERIOR.NE10