Um comboio de caminhões militares e veículos blindados partiu de Manaus para a fronteira norte do Brasil nesta sexta-feira (2) para reforçar a presença do Exército na região, uma resposta às tensões relacionadas à reivindicação da Venezuela sobre a região de Essequibo, na Guiana.
Mais de 20 veículos chegaram à capital amazonense por transporte fluvial, e alguns partiram por estrada para Boa Vista, em Roraima, onde o efetivo local será aumentado para 600 soldados, segundo comunicado do Exército.
O grupo inclui seis blindados Cascavel, veículo brasileiro de seis eixos com um canhão de 37 mm; oito Guarani, veículo de transporte de pessoal; e 14 Guaicuru, um blindado leve de tração nas quatro rodas. Os blindados mais pesados foram transportados em caminhões-plataforma.
Oficiais do Exército não explicitaram se os veículos ficariam em Boa Vista ou seriam deslocados a Pacaraima, na fronteira com a Venezuela.
O transporte dos blindados ocorre após o regime de Nicolás Maduro reviver uma disputa histórica entre Venezuela e Guiana pelo controle do Essequibo, território guianense que corresponde a cerca de dois terços do país e é majoritariamente composto por mata fechada.
Além de minérios no solo da região, grandes depósitos de petróleo e gás foram descobertos na costa do Essequibo nos últimos anos e hoje são explorados por empresas estrangeiras.
Caracas organizou um plebiscito no final do ano passado que terminou com 96% dos eleitores que compareceram às urnas do país apoiando a anexação da região. A votação contrariou uma recomendação da Corte Internacional de Justiça (CIJ) para que a Venezuela não tomasse qualquer atitude para modificar a situação atual do Essequibo.
Venezuela e Guiana concordaram, em meados de dezembro, em não usar a força ou aumentar a tensão na disputa, durante uma reunião em São Vicente e Granadinas. Na semana passada, em um encontro mediado pelo Brasil, a Venezuela prometeu aderir à diplomacia para resolver o conflito.
A retomada da reivindicação por parte de Caracas levou o Brasil a afirmar que não permitiria que a Venezuela usasse o território brasileiro em Roraima para chegar a Essequibo. Eventual invasão do território por via terrestre passaria obrigatoriamente por ele, em especial duas cidades de Roraima estratégicas para a vigilância militar de áreas de fronteira além de Pacaraima: Bonfim e Normandia, na região da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, na fronteira com a Guiana.
Um relatório do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Brasil constatou que a Venezuela não possui capacidade militar para invadir a Guiana, pois tem “pouca capacidade logística” para apoiar missões além da fronteira.
O documento de sete páginas visto pela Reuters afirmou que o Brasil possui um plano de contingência para evitar qualquer incursão militar venezuelana contra a Guiana passando pelo território brasileiro. O texto conclui que um confronto entre os dois vizinhos do Brasil era improvável, pois uma solução pacífica estava prestes a surgir.