Há exatos 80 anos, em 27 de janeiro de 1945, o Exército Vermelho libertava Auschwitz-Birkenau, revelando ao mundo a dimensão do horror nazista, onde 1,1 milhão de pessoas foram assassinadas, a maioria judeus, além de ciganos, prisioneiros de guerra e outras minorias . A cerimônia principal desta segunda-feira (27), no local do antigo campo, priorizou os testemunhos dos últimos sobreviventes — cerca de 50 —, enquanto autoridades de 40 países, incluindo líderes europeus, ouviram em silêncio. Um vagão de carga, símbolo das deportações em massa, foi colocado diante do portão de Birkenau, lembrando os 420 mil judeus húngaros exterminados em 1944 . A ausência de Vladimir Putin, excluído devido à guerra na Ucrânia, e de Benjamin Netanyahu, alvo de mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional, destacou as tensões geopolíticas que permeiam a memória do Holocausto.
O legado de Auschwitz confronta um presente marcado pela ascensão do extremismo. Pesquisas revelam que 46% dos jovens franceses desconhecem o Holocausto, e metade dos alemães ignora o extermínio de 6 milhões de judeus . Enquanto a Unesco e o Museu de Auschwitz convertem a casa de Rudolf Höss, ex-comandante do campo, em centro de estudos sobre ódio e radicalização, a União Europeia amplia ações contra discursos de ódio online, responsáveis por distorcer fatos históricos e alimentar antissemitismo — que aumentou 340% globalmente desde 2022 . “A manipulação da opinião pública nunca foi tão fácil”, alerta Piotr Cywiński, diretor do museu, ao destacar o risco de generalizações que legitimam a desumanização.
A data transcende o passado: é um alerta contra a repetição. Artefatos como 2 toneladas de cabelos humanos e milhares de sapatos expostos no memorial testemunham a brutalidade, mas a redução de sobreviventes vivos exige novas estratégias de educação . O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, reforça que “recordar é um imperativo moral” em um mundo polarizado, onde crises econômicas e discursos populistas reacendem ciclos de intolerância . Às vésperas do colapso demográfico das testemunhas oculares, a pergunta ecoa: quem ouvirá o ruído fabril de Auschwitz quando as últimas vozes se calarem?