Com bom humor e sensibilidade, a assistente social aposentada Edinaide Farias Palheta, 71 anos, transformou a dor em ensinamentos para auxiliar pessoas com câncer. A família a estimulou a extrair da memória momentos marcantes da sua trajetória de vida assim como o detalhamento da luta contra o câncer. As anotações se transformaram num livro de 92 páginas que será lançado no dia 19 de fevereiro às 19h30, na capela do Cristo Rei, localizada na Rua Cristo Rei, conjunto Costa e Silva.
A autora é natural da cidade de Codajás. Aos cinco anos de idade, ela juntamente com a família deixou a terra do açaí e se fixou no município de Manacapuru. Cinco anos depois, a saúde do pai tabelião definhou tanto por causa de uma doença cardíaca, que a família foi obrigada a se mudar para Manaus para acompanhar o tratamento dele.
Cursou Serviço Social na Universidade Federal do Amazonas. Trabalhou em diversas instituições, mas a que mais a marcou foi a última: o Hospital e Maternidade Chapot Prévost, onde conviveu com pacientes terminais de câncer. Lá, além de intermediar atendimento e encaminhar pacientes para a obtenção de serviços públicos, acompanhou de perto a rotina dos acamados e procurou renovar a vontade de viver deles por meio da música e da palavra. “Eu pegava o violão e cantava. Eu procurava amenizar o sofrimento e me colocava no lugar deles dizendo: se eu tiver de passar um dia com a dor que vocês estão sentindo, Deus vai me dar as forças que dão a vocês”, relembrou Edinaide.
As palavras dela se converteram numa profecia. Em 2011, ela percebeu leve alteração no seio. Os médicos, em Manaus, não detectaram inicialmente a anormalidade. Quando recebeu o diagnóstico de câncer, ele estava avançado. A doença uniu ainda mais a família. “Tenho um marido, um filho e quatro filhas (três biológicos e duas adotadas) que não me deixam sozinha. A que mora em Rio Branco (capital do Acre) vem com frequência me levar para fazer exames. Minha família é meu esteio, eu tenho um exército próprio”, declarou enquanto saboreava as palavras.
Mesmo após cinco cirurgias, 143 quimioterapias, inúmeros exames dolorosos e câncer em várias partes do corpo (mama, orelha, pele), além de uma queda que a fez fraturar o quadril que limita seus movimentos no momento, Edinaide não esmorece. “Não consigo desistir porque os anjos não param de aparecer na minha vida. Quando o plano de saúde quis interromper as quimios, procurei a Defensoria Pública, onde conheci o defensor Arlindo Gonçalves. Ele encampou a minha causa e brigou para que eu não parasse o tratamento. Por causa desse cuidado comigo, eu o convidei para fazer a contra capa do meu livro. Se a gente pensa, reza para encontrar gente boa, elas aparecem. É preciso confiar”, falou a mulher que não perde a esperança.
Livro
A publicação começou a ser escrita nos últimos três meses. A família teve papel fundamental para a realização do sonho. “Eu anotava trechos da minha vida. Meu marido Fernando Palheta que é advogado e meu filho Claudio Palheta que é administrador pegavam este material e transformam em textos lindos. E foram além. Sem eu saber, entrevistaram pessoas que passaram pela minha vida e pegaram depoimentos sobre como me viam. Quando o meu filho leu a boneca (esboço) do livro, eu chorei muito. Uma querida falou assim: você não é assistente social, mas assistente espiritual. Eu até pensei: senhor eu tô tão feliz que poderia morrer agora, mas pensei melhor e disse em pensamento, mas se o senhor quiser me deixar mais um pouquinho, eu fico tá”, falou as gargalhadas.
Do total de 500 exemplares, 100 já foram doados. Os demais serão vendidos ao preço de R$ 25,00 para cobrir os custos da edição. Os interessados podem solicitar pelo celular 92 99126-2019. “Eu não quero fama. Eu quero que a minha história ajude a dar força para quem enfrenta o câncer. Às vezes, uma palavra carinhosa tem o poder da cura da alma. No final, é isso que importa. Acredito que a doença nos purifica para estarmos prontos para ficar perto do nosso senhor quando for a hora”, disse.
Encontro
O Defensor Público Arlindo Gonçalves resumiu com carinho o contato com a assistente social. “A dona Edinaide é um ser iluminado, um verdadeiro anjo, que ensina lições preciosas para a vida a todo instante. Tive o privilégio de estar defensor público no momento em que a dona Edinaide precisou da Defensoria. Foi um presente divino este contato. As conversas com a dona Edinaide são um bálsamo para a alma. Aprendi muito com ela a importância da fé e ressignificar a própria vida. ‘Cansei o Câncer’ é daqueles livros que prende a atenção do leitor do início ao fim. Prepare a pipoca, separe o lenço e embarque numa leitura que leva a reflexões e amadurecimento”, escreveu o profissional do Direito que recebeu o livro com uma doce dedicatória.