Em 1976, a comunidade de Findhorn, na Escócia, já tinha uma história rica que remontava ao início da década de 1960. Findhorn é conhecida por ser uma comunidade espiritual e ecológica pioneira, onde os residentes se dedicam a práticas de agricultura orgânica, sustentabilidade e desenvolvimento pessoal.
A história da comunidade de Findhorn remonta a 1962, quando Peter e Eileen Caddy, juntamente com sua amiga Dorothy Maclean, estabeleceram um pequeno assentamento na costa nordeste da Escócia. O que começou como uma comunidade de caravanas e cabanas modestas rapidamente se tornou conhecido por suas práticas espirituais únicas e por sua abordagem inovadora para viver em harmonia com a natureza.
Um aspecto central da história de Findhorn é a crença na orientação espiritual direta. Eileen Caddy afirmava receber mensagens inspiradoras durante momentos de meditação, que ela considerava orientações divinas para a comunidade. Essas mensagens muitas vezes forneciam dados preciosos sobre como cultivar plantas abundantes em solo arenoso e hostil, o que ajudou a comunidade a prosperar em uma região onde a agricultura convencional era desafiadora.
Com o passar dos anos, a comunidade de Findhorn cresceu e se desenvolveu, atraindo pessoas de todo o mundo que compartilhavam sua visão de um estilo de vida sustentável e espiritualmente enriquecedor. Em 1976, a comunidade já estava bem estabelecida e continuava a expandir suas atividades, incluindo projetos de educação, ecologia e desenvolvimento comunitário.
Hoje, Findhorn é conhecida como uma das comunidades mais antigas e influentes do movimento de ecovilas e é um centro de aprendizado e prática para aqueles interessados em espiritualidade, sustentabilidade e permacultura. Sua história continua a inspirar pessoas em todo o mundo a viver de maneira mais consciente e em harmonia com o meio ambiente.
Abaixo, divulgamos a íntegra da excelente reportagem da revista Planeta, datada de maio de 1976, em que a jornalista, médium, parapsicóloga e artista plástica paulista Elsie Dubugras narra detalhes sobre a fundação da comunidade escocesa. Editora da Planeta durante 30 anos, Elsie mostra como a interação de humanos com seres elementais tornou possível a criação da comunidade que deslumbra quantos a visitam. Leiam a íntegra da reportagem digitalizada pela jovem Nicolly Dantas.
Por Juscelino Taketomi
Findhorn: As Fadas e as Plantas
Por Elsie Dubugras
Fotos: Elsie Dubugras
Nenhum lugar do mundo produz flores e verduras maiores e melhores do que Findhorn. Ali, as plantações são vigiadas e auxiliadas por fadas e gnomos.
Quatro escoceses sem emprego receberam uma “ordem” para se dirigirem a Findhorn. Ali, guiados por comunicações espirituais, fundaram uma comunidade única no mundo e que está sendo objeto de investigações científicas. Chamada hoje de a Universidade Luz, Findhorn ficou célebre pelos experimentos com vegetais. Auxiliados pelos seres da natureza, tais vegetais atingem proporções gigantescas e sabores inigualáveis. Mais do que nunca, o mundo está precisando de outros Findhorns. Porque a terra precisa de árvores, uma vez que as árvores são para a terra o que a pele é para o homem: uma proteção.
Findhorn é o sinônimo de uma deliciosa experiência ecológica da Nova Era, onde os seres da natureza, cooperando com pessoas de boa vontade, transformaram uma gleba de areia estéril em terra fecunda, mostrando ao mun do como os territórios devastados pela imprudência e a maldade humana poderão ser reconquistados e transformados em regiões produtivas e belas, bastando para isso que os homens ouçam o que esses seres têm para ensinar e com eles colaborem.
Em 1962 quatro escoceses que trabalhavam num hotel de luxo perderam seus empregos. Eram Peter Caddy, sua esposa Eileen, Do rothy Maclean e Lena Lamont. Não havia razão aparente para essa simultânea perda de empregos, mas o que causou ainda mais estranheza é que, apesar de serem profissionais eficientes, essas pessoas não conseguiam outro trabalho.
Depois de inúteis tentativas, resolveram esperar que a adversidade amainasse e foram viver em dois trailers que possuíam. Como eram pessoas que não só trabalhavam mas estudavam e tinham-se submetido a um treinamento espiritual, não se afligiram indevidamente e entregaram-se à vontade do plano superior.
Eileen era também uma sensitiva, procurou orientação e nessa procura recebeu instruções para que ela e seus companheiros rumassem para a baía de Moray, no Norte da Escócia, um lugar mais próximo do Círculo Ártico do que a cidade russa de Moscou. Lá havia um local perto de um acampamento para caravanas, denominado Findhorn. Situado num pequeno cabo, era varrido por ventos glaciais e naquela parte do ano (novembro) os dias eram curtos e quase sem sol.
Difícil imaginar um lugar mais inóspito, mas pensavam eles – que já o conheciam – seria uma parada curta, temporária, enquanto aguardavam os esperados empregos! Para lá se dirigiram. E acamparam. Como eram pessoas com conhecimentos espirituais, compreenderam que algum motivo deveria existir para essa mudança brusca de destino e moradia, e não desprezaram a oportunidade do isolamento obrigatório para prosseguir com seus estudos.
Eileen, continuando com suas meditações diárias, quase que imperceptivelmente entrou em sintonia com os seres da natureza que começaram a dar instruções ao grupo. Quando a primavera chegou – eles ainda em Findhorn e ainda sem emprego – sabiam o que deveriam fazer e como proceder: trabalhar o solo para melhorar o ambiente e seu cardápio!
Haviam sido instruídos como enriquecer o solo sem colocar produtos químicos. Possivelmente por serem totalmente inexperientes em jardinagem e horticultura, não tinham ideias preconcebidas quanto à qualidade paupérrima do chão que, sendo composto de areia e pedregulhos com uma fina camada de terra por cima, dificilmente se prestaria ao plantio de verduras! Puseram mãos à obra e começaram a preparar o local para a horta.
Saíram à procura de produtos orgânicos naturais para enriquecer seu cantinho de areia e o primeiro tesouro encontrado foi um montão de capim apodrecido que transportaram para o acampamento. Pouco depois um conhecido que criava cavalos ofereceu um lote de estrume e permitiu que apanhassem o esterco que encontrassem nos pastos. Arrancavam as algas marinhas que ficam presas aos rochedos perto do mar, trabalho duro e até perigoso mas compensador, pois essas algas continham grandes quantidades de produtos químicos que fertilizavam o solo.
Estavam precisando de palha para ajuntar ao montão de lixo que tinham conseguido, quando foram procurados por um vizinho que perguntou se não gostariam de apanhar um fardo que havia caído ao lado da estrada! Uma destilaria ofereceu seus resíduos de cevada, outro poderoso fertilizante natural.
Andando pelos arredores, Peter Caddy, o chefe da operação, viu um carneiro que havia se enroscado no arame farpado da cerca. Soltou-o e avisou o fazendeiro que, agradecido, presenteou-os com um carregamento de estrume. Uma mercearia deu um lote de batatas e verduras estragadas e um vizinho que estava desmanchando seu barracão, ofereceu o madeiramento que o grupo de Findhorn precisava para construir uma cerca.
Tudo que necessitavam vinha às suas mãos como que por “milagre”, mostrando que uma força inteligente trabalhava segundo um plano preestabelecido. Eram os espíritos da natureza que se faziam conhecer através das instruções que a sensitiva recebia e que davam ao solo a energia vital, sem a qual a Operação Findhorn teria fracassado!
Encontro com os seres
Aqui fazemos uma curta digressão, pois temos que apresentar ROC, uma pessoa que foi levada a Findhorn depois que o grupo inicial havia se instalado. Era um ex-operador de um navio de transportes durante a Segunda Guerra Mundial. Quando a guerra terminou, ROC (R. Ogilvie Crombie) ingressou na Universidade de Edimburgo, na Escócia, mas por ter sido vitimado por grave moléstia foi forçado a abandonar os estudos. Durante sua longa convalescença começou a interessar-se por assuntos relacionados aos poderes paranormais do ser humano e quando sarou, voltou a morar na cidade de Edimburgo onde teve uma experiência nesse campo que revolucionou sua vida.
Conta ROC que, como gostava de lugares ermos, passava longas horas no Jardim Botánico e certo dia, sentado na relva, encostou-se a uma árvore. Uma estranha paz invadiu-o e, no tranquilo silêncio, ele observava a natureza que o cercava. Repentinamente viu uma curiosa figurinha, meio gente, meio animal, que saltitava na grama.
Pensando que estava sofrendo de uma alucinação, fechou os olhos, mas com os olhos cerrados não via o fauno. Quando os abria, lá estava ele que aos poucos se aproximava. Quando chegou bem perto, ROC cumprimentou-o dizendo: “Aló”.
Assustado o fauno deu um pulo e perguntou: “Você me pode ver?” “Sim!” disse ROC. “Mas os humanos não nos vêem, retrucou o fauno. Assim os dois começaram a se compreender e entabularam uma relação de amizade, o pequeno fauno iniciando um trabalho de grande importância que tinha que fazer com ROC – prepará-lo para um encontro decisivo em sua vida, que se deu da seguinte forma:
Voltava ROC para casa à noitinha e, passando por uma das tranquilas ruas de Edimburgo, sentiu que penetrava num ambiente diferente, singular. Parecia que estava nu e que o ar ficara tão denso que o sentia na pele, morno e vibrante como leves choques elétricos ou delicadas teias de aranha a roçar contra seu corpo.
Quando aproximou-se de um espaço entre duas casas, sentiu que algo ainda mais estranho estava para acontecer De repente, viu um ser gigantesco caminhando a seu lado – meio homem, meio animal – que irradiava uma enorme força Era outro fauno, mas não podia ser seu pequenino amigo que havia crescido a tais proporções… Naquele instante o fauno virou- se para ROC e começou a conversa mais curiosa que se pode imaginar. Apresentou-se em primeiro lugar. Era o grande Pã que a mitologia grega cita e que a Igreja cristã havia usado para exemplificar, erroneamente, aquele ser que ela chamava de Satanás !
O grande Pã, conhecendo o terror que muitos cristãos têm por sua figura, o que muito o entristece, queria saber se ROC também o temia ou se lhe inspirava repulsa. ROC assegurou-lhe que não e que seus sentimentos eram profundamente fraternos pelos seres da natureza.
Mais aliviado, Pã continuou conversando e acompanhou ROC até a porta de seu apartamento quando se tornou invisível. ROC, apesar de não poder vê-lo, sentia sua presença dentro de casa. Esse foi o primeiro encontro. Outros seguiram e os dois tornaram-se bons amigos, Pã explicando seus planos que estavam relacionados a Findhorn, para onde ROC deveria dirigir-se. ROC não hesitou – partiu para lá e integrou-se ao grupo de Peter Caddy. Pã, por sua vez, iniciou sua parte na tarefa de reconstrução de Findhorn.
O trabalho dos seres da natureza e os homens
Sendo pequena a área e como era, também, uma experiência nova, o grupo reuniu-se para decidir com o que iriam iniciar a horta. Resolveram que seria com repolhos e calcularam que, se vingassem e pesassem mais ou menos dois quilos cada, teriam uns quinze quilos que bastariam.
Plantaram, pois, oito sementes, mas o resultado foi desconcertante, pois alguns dos repolhos chegaram a pesar mais de vinte quilos cada! E uma semente de brócolos, plantada ao mesmo tempo, deu uma árvore de brócolos que serviu para alimentar o grupo durante semanas… Quando o talo precisou ser arrancado, o peso era tanto que Peter Caddy quase não teve forças para carregá-lo! Nessa primeira estação o grupo plantou 65 qualidades de verduras, 42 de ervas de cheiro e 21 de frutas, algumas que não eram naturais a lugares frios.
Os resultados conseguidos começaram a ficar conhecidos e Findhorn foi por fim visitado .por um representante do Departamento de Agricultura que pediu licença para tirar uma amostra da “terra”. Quando a examinou, imediatamente declarou que precisaria de pelo menos 80 gramas de sulfato de potássio por metro quadrado.
Caddy explicou que não empregavam fertilizantes artificiais ou químicos em Findhorn, ao que o digno representante do Departamento da Agricultura respondeu que os produtos “naturais” eram inadequados para suprirem as deficiências do solo e para explicar os motivos de sua abalizada e técnica opinião levou duas preciosas horas. Enfim, levaria a amostra para ser examinada pelo Departamento Técnico em Aberdeen. Seis semanas mais tarde voltou trazendo o resultado da análise. Não havia deficiências no solo. Perplexo, convidou Caddy a explicar num programa de TV quais os métodos adotados em Findhorn que tornavam areia estéril em terra fértil.
A fama de Findhorn começou a correr o mundo e pessoas de todos os países o visitavam. O grupo de Caddy acabou recebendo uma oferta para trabalhar num belo lote de terra, completamente cercado, com grandes estufas de vidro (e dinheiro, bem entendido), mas apesar de sentir-se tentado, o chefe do grupo recusou, pois todos já haviam percebido que os resultados obtidos em Findhorn não eram normais, que havia um plano por detrás de tudo. Compreenderam enfim por que não conseguiam empregos! Era preciso que se dedicassem inteiramente à experiência que estava sendo feita em Findhorn que resultaria em benefícios ao mundo inteiro tão necessitado de recuperação ecológica.
As árvores e as flores
Até então só verduras e plantas rasteiras haviam sido plantadas. Como a tentativa havia sido coroada de êxito, outra fase foi iniciada: a do plantio de árvores de maior porte – de sombra e frutíferas – e arbustos.
Com a chegada da primavera Caddy achou de iniciar essa segunda etapa com uma castanheira e alguns arbustos já escolhidos. Pã foi consultado e prometeu sua cooperação. A castanheira cresceu normalmente apesar do verão que se seguiu ter sido excepcionalmente quente e seco, e os arbustos, que haviam sido colocados na mais pura das areias (o fertilizante natural já havia acabado), floriram.
Anos mais tarde, quando o grupo de Caddy já havia adquirido um lote de terra vizinho a Findhorn, perto de seiscentas faias foram plantadas para cercar a área, e sobre essas faias Caddy conta uma curiosa estória.
Alguém havia visto um anúncio oferecendo árvores já crescidas em oferta especial. Mandaram o dinheiro e nove dias mais tarde foram avisados que as árvores estavam na estação. Seu estado era deplorável, as raízes e folhas, secas e enrugadas, mas Pã foi convocado e ele e os devas prometeram um cuidado todo especial para elas. Foram também plantadas na areia e vingaram e floresceram.
Um pomar foi formado e os que visitaram o lugar exclamavam que jamais haviam visto tanta abundância e frutas e verduras tão saborosas. Sobre esse pomar também contam outro incidente curioso. As árvores cresciam e o lugar precisava de uma capinada, mas o “mato” estava em plena florescência. Assim mesmo cortaram as plantas.
ROC, que viajara, chegou logo após a chacina e ao descer para a praia, sentiu-se perseguido por uma legião de irados elfos que pediam satisfação por terem tido seus lares destruídos. Viviam nas flores, diziam eles, e agora não tinham onde morar. Não trabalhariam mais em Findhorn. Quando ROC descobriu o que havia acontecido, pediu desculpas e explicou aos elfos que os humanos não sabiam que as flores eram habitadas.
Com essa explicação os ânimos exaltados se acalmaram e mais tarde a sensitiva recebeu uma mensagem que dizia que, sendo Findhorn uma experiência pioneira, a cooperação entre os homens e os seres da natureza era bidirecional e era imprescindível que todos se abstivessem de desagradar a quem quer que fosse. Não bastava “acreditar” e pedir ajuda. Era preciso respeitar os seres da natureza e sua obra: as plantas.
Os antigos aceitavam a existência dos seres da natureza, mas os supersensíveis órgãos que permitem sua percepção atrofiaram-se no homem moderno que desenvolve unicamente seu intelecto. Para ele, esses seres não passam de figurinhas em estórias para crianças ou, então, lendas da mitologia. Mas o breakthrough – a penetração em território desconhecido – representado pela experiência feita em Findhorn, mostra que os seres da natureza existem e mostra, também, que se os homens se ligarem mais a eles e escutarem seus ensinamentos, a nossa triste e violentada Terra terá condições de voltar à sua primitiva beleza. Todos os ensinamentos recebidos pelo grupo deram resultados excelentes.
Quando seu auxílio era solicitado, não negavam sua cooperação – a assistência que prestavam era exatamente aquela que as plantas precisavam, mostrando que conheciam as deficiências e tinham não só o poder, mas o conhecimento técnico, qualidade tão apreciada hoje em dia pelos grandes capitães da indústria.
Entre todos os ensinamentos prestados ao grupo, um que foi mais enfatizado é que a Terra precisa de árvores, muitas e de grande porte, pois as árvores são para esse planeta o que a pele é para o homem. E se os humanos se afastarem deles e continuarem a transgredir as leis que mantém o equilíbrio ecológico, esses seres se retirarão, levando consigo o poder de curar, sanar, transformar nosso solo doente e sobre a Terra se abaterão forças destrutivas que ela não terá mais condições de conter.
A Experiência da universidade
O “ensino” deve ser visto no conjunto de todas as suas atividades. O homem é uma criatura de muitas partes, buscando foca lizar dentro de si os poderes divinos de síntese e criatividade. Os componentes físico, emocional, mental e espiritual de nosso ser necessitam integrar-se num todo amoroso inteligente, ativo e dotado de propósito. Assim, o programa da universidade em Findhorn é visto como um veículo através do qual essa integração pode acontecer.
Estamos lidando com experiência e processo. Uma vez que concebemos educação como a revelação dinâmica dos potenciais interiores, nosso programa não pode ser rígido ou de estrutura muito formal. O programa da universidade é essencialmente uma série de experiências que, quando assimiladas, produzem crescimento e expansão da consciência. Ele não busca “preencher” mas “extrair” e ajudar cada pessoa a entrar em sintonia com sua própria fonte divina, onde está a satisfação de todas as suas necessidades.
O programa é criado a partir da vida e experiência da comunidade. Os departamentos de trabalho proporcionam uma arena para a demonstração e integração dos princípios espirituais. A faculdade é um local onde se adquire claridade de visão e propósitos. A vida comunitária, com suas várias facetas, serve como um ambiente onde todos os aspectos do crescimento e educação devem ser traduzidos num ritmo integrado de amor, serviço, prazer e comunicação.
Cada indivíduo, sendo único, tem necessidades diferentes. Com a ajuda do departamento de pessoal, ele determinará uma seqüência particular de atividades que irá de encontro a suas necessidades do momento e às de toda a comunidade. Cada pessoa se move em seu próprio ritmo, de acordo com as exigências de sua divindade em processo de revelação. Por nossa experiência, no entanto, aprendemos que um período médio de três anos parece ser o tempo necessário a um completo desenvolvimento e treinamento para o futuro caminho de servidores do mundo.
Durante esse tempo o membro passará por muitos ciclos. Nos estágios iniciais ele geralmente encara o desafio de abandonar velhos hábitos e padrões de comportamento; depois, à medida que desenvolve sua força e visão, ele é chamado para assumir maior responsabilidade e focalizar dentro de si mesmo os poderes de autoridade e educação, aprendendo a usá-los com sabedoria, amor e equilíbrio.
Nos estágios finais de seu treinamento lhe é oferecida a oportunidade de tomar parte ativa na direção da universidade, de conduzir seminários e aulas, de visitar outros centros da Nova Era por toda a Grã-Bretanha, Europa e resto do mundo. Ele então completa seu ciclo partilhando do que aprendeu com a universidade, somando o poder da própria consciência ao futuro crescimento da comunidade.
Porque entendemos educação como nutrição de uma semente à qual se oferece o meio ambiente adequado, e porque o que deve ser educado é a alma cujo ritmo é serviço e doação, o indivíduo descobre que ele receberá e crescerá à medida que dá. Portanto, os principais traços do programa da universidade são encorajar o indivíduo a voltar-se para dentro e encontrar seu mestre interior, para que possa expressar-se numa contribuição única dentro dos domínios de seu serviço.
Educação e Findhorn
Os horizontes de Findhorn vêm se expandindo continuamente. Eles se alargaram para conter muito mais do que a pequena vila de trailers e bangalôs onde vivem seus membros. Findhorn revelou-se como uma Universidade da Luz “cidade do Universo” buscando incorporar a claridade de uma nova consciência.
Em Findhorn estamos aprendendo a ser servidores do mundo. Achamos que, recriando primeiramente a nós mesmos, podemos depois recriar o planeta, trabalhando para dissipar as sombras que agora o oprimem e substituí-las por paz e luz. Enxergar a luz dentro de nós é a única maneira de nos recriar. À medida que a luz aumenta dentro de nós, o planeta fica mais claro.
Quem vem para Findhorn participa de uma experiência de transformação e revelação, vendo emergir novas dimensões de si mesmo. O indivíduo faz frente ao desafio de abandonar velhos hábitos e padrões de comportamento para descobrir no lugar novo potencial e criatividade.
Findhorn mantém um ambiente onde cada indivíduo encontra a experiência que sua educação em particular necessita. Trocando nossas experiências, visão das coisas e sentimentos através de um diálogo criativo, extraímos uns dos outros nossos talentos únicos e capacidades inerentes. Limitações e diferenças são colocadas de lado para que se consiga entrar numa unidade sinergética.
Estamos aprendendo continuamente a reconhecer a divindade dentro de nós mesmos e dentro dos outros habitantes de nosso meio.
Findhorn na Nova Era
A comunidade Findhorn demonstra que com Deus o aparentemente impossível se torna possível. Em doze anos Findhorn cresceu de seis pessoas, vivendo num pequeno trailer em um depósito de entulho, para uma comunidade-modelo de duzentas pessoas vindas de várias partes do mundo. Buscamos a unidade através da diversidade.
Viver na Nova Era é aspirar por novas dimensões de ser, revelar a criatividade e a vida inerente a todos nós. Chegamos à realização de que dentro de todo indivíduo reside a semente da consciência divina, uma semente esperando pelo sopro da vida. Não há caminho a seguir com direção à Nova Era. Não há plano mostrando como fazê-lo acontecer. Somos os administradores do planeta, vivendo no momento, seguindo a direção de Deus, aprendendo a recriar a nós mesmos e ao nosso mundo.
A palavra de Deus não está limitada a umas poucas pessoas. É infinita fonte de amor e inspiração dentro de cada indivíduo. Em Findhorn buscamos nos tornar unidade com aquela fonte, permitindo que ela nos guie para encarar as necessidades de cada momento.
O programa de trabalho
Em Findhorn, na Universidade da Luz, a maior e mais importante parte do curriculum é o programa de trabalho. Todo indivíduo, ao chegar a Findhorn, é convidado a trabalhar em um dos departamentos, que incluem -entre outros- o jardim, a cozinha, construção e manutenção, artes, artesanato, escritório, loja, o setor de audiovisual e de publicações. Ele passa a fazer parte do departamento que lhe parece mais adequado às suas necessidades e habilidades, atento também ao serviço que pode prestar ao aspecto comunitário da Universidade da Luz.
Cada departamento inicia sua manhã com um período de silêncio, quando seus membros se unem através da consciência de uma finalidade comum e procuram elevar-se a um nível de unidade, amor e cooperação, carregando consigo esse senso de unidade através do dia. Esse é o ato de sintonia, chave de todos os nossos esforços.
Em Findhorn freqüentemente se fala de trabalho como “amor em ação”. O trabalho é o meio pelo qual demonstramos os princípios e crenças em que estão baseadas nossas vidas. Descobrimos que as pessoas podem trabalhar em amor e harmonia uns com os outros e com a vontade divina, conscientes de sua unidade com toda a criação.
No jardim, por exemplo, cada jardineiro é desafiado a criar uma relação cooperativa com seus companheiros de trabalho e com as próprias plantas. Ele é também encorajado a cultivar sua sensibilidade com relação a animais, insetos, às formas de vida dévica e elemental e com relação às ferramentas que usa. O trabalho diário dá à pessoa tanto a oportunidade quanto a responsabilidade de penetrar numa experiência educativa com todos os habitantes de seu meio. Descobrimos que cada situação em Findhorn é potencialmente uma situação educativa, dependendo de nossa habilidade e sensibilidade para receber suas lições.
É trabalhando juntos e encarando cada incidente do dia como provisão para o crescimento individual que podemos alcançar e manter o alto nível de consciência unificada dentro da comunidade.
Findhorn como Universidade da Luz
Nos últimos doze anos a experiência de Findhorn cresceu desde uma família até uma comunidade espiritual de duzentas pessoas. Ela tornou-se um lugar onde várias religiões, culturas, tradições e nacionalidades se misturaram com o mesmo propósito e visão de construir o reino de Deus na Terra.
A ênfase tem sido dada sobre a construção da estrutura e formas que possibilitem a expressão do espírito do novo Cristo, agora ativo em todo o planeta. À medida que cada indivíduo dá livremente de seus talentos, ele experimenta mudanças, transformações e libera um potencial desconhecido de dentro dele. Assim, inerente à experiência comunitária está um processo de educação, autodescoberta e autotranscendência que, quando alcançado ao nível do grupo, pode liberar energias de amor, luz, prazer e paz que curam o planeta.
Como uma comunidade nós realizamos um propósito mais profundo, não como uma alteração mas como a conseqüência natural do que acontecia antes. Fazemos soar uma nova nota, apresentando uma nova imagem de nós mesmos. Findhorn como Universidade da Luz não é diferente de Findhorn como comunidade. Ela apenas engrandece, enriquece e acrescenta significado mais profundo à experiência da comunidade.
A Universidade da Luz é simplesmente um lugar “voltado para a Luz Única”, onde todos os nossos pensamentos e ações buscam convergir para a realização do plano divino na Terra. Não há grupo que exista independente do resto da humanidade e nós procuramos cumprir nossa parte mantendo um ambiente onde o indivíduo possa experimentar um novo nascimento e então contribuir para a recriação do planeta.
As fundações têm de ser construídas, solidamente estabelecidas e fundadas na rocha de nossa fé em Deus e nossa relação uns com os outros, à medida que aprendemos a viver num espírito de irmandade e criatividade. Nós agora buscamos conscientemente um treinamento para servir o planeta, para adquirir maior equilíbrio e expressar maior integridade. Queremos estender a mão para nosso mundo e partilhar com ele os frutos de nossa consciência e experimentos.
A forma como esse treinamento se dá é através de um programa de trabalho que integra os conceitos espirituais com a atividade diária, através da faculdade que promove claridade e síntese mental, através de relações humanas que ajudam a estabilizar e fortalecer os padrões emocionais e através da reunião de toda a comunidade para a afirmação de nossa visão espiritual. Todos esses elementos fazem a matriz de nossa educação e transformação. Essa é a essência da Universidade da Luz.
Não estamos preocupados com educação no sentido acadêmico de estudos intelectuais, embora eles tenham seu papel. Estamos lidando com um processo de descoberta ao nível do indivíduo, do grupo e do planeta. Findhorn não é um lugar onde as pessoas podem simplesmente viver e morar. É muito mais que isso. Deve haver uma dedicação completa e a vontade de submeter-se ao processo de transformação. Porque é naquelas almas onde ressoa o sonho de aprender a construir, dar e servir que repousa a chave para o renascimento individual e planetário.
Deus e Findhorn
A pergunta o que é Deus é uma questão que cada indivíduo deve fundamentalmente responder por si mesmo, pois nessa resposta ele aprofunda a consciência e o conhecimento de si. Deus está além de toda tentativa de definição. Ele é tanto pessoal como impessoal, presença com quem se pode comunicar, nosso amado, ou pai ou mãe, ou qualquer outra relação que dê alimento àquele ser, ou ele é uma vasta força impessoal, espírito que se move além dos trabalhos da criação. Ele é imanente e transcendente. Ele é, na verdade, tudo o que necessita ser para aquela alma em particular, para possibilitar àquele indivíduo revelar-se e descobrir a divindade dentro dele.
Aqui em Findhorn nós reconhecemos Deus de tantas maneiras quantas nossa consciência possa encerrar, estando ao mesmo tempo abertos para novas revelações do significado e características da divindade. E nossa função particular, no entanto, demonstrar a realidade de Deus como uma presença viva da maior sabedoria, amor, vida e verdade, trabalhando conosco na intimidade de nossa vida diária. Não personalizamos essa divindade em nenhuma forma que possa limitá-la, pois reconhecemos que sua presença só pode ser verdadeiramente conhecida em cada um de nós à medida que formamos nosso relacionamento com ele.
Qualquer ser pode incorporar a divindade, porque todos os seres são essencialmente divinos. Em todos os estágios de nossa evolução, portanto, há seres de maior estatura que são como Deus para nós, e podemos olhá-los como a personificação do divino. Quando, porém, evoluímos para aquele nível, entendemos que a divindade segue além daquele limite e ainda estamos longe de encerrá-la completamente.
Podemos também aprender que divindade é a presença de vida criativa altamente consciente de si mesma e de seu mundo, procurando sempre, por meio de novas criações, estabelecer e manter a integridade dentro daquele mundo. Deus, portanto, é tão pessoal quanto o indivíduo que senta ao nosso lado no ônibus. É tão pessoal quanto a inspiração que cresce dentro de nós, tão próximo quanto nossa própria respiração e no entanto, se escolhemos vê-lo em termos cósmicos, ele é mais vasto do que a mente humana pode compreender.
Aqui em Findhorn escolhemos demonstrar a proximidade de Deus, e seu trabalho prático em nossas vidas. Estamos sintonizados no seu aspecto imanente e seu trabalho para criar um novo mundo. Estamos muito preocupados em demonstrar a vida de Deus nas situações humanas práticas de todo dia.
Acreditamos que cada indivíduo deve encontrar Deus de sua própria maneira, e reconhecemos que Deus tem tantos aspectos quantos indivíduos se relacionem com ele. Porque Deus é o Todo em Tudo, ele é tão pessoal quanto impessoal, tão aberto ao entendimento quanto incompreensível. Não podemos dizer que Deus é uma coisa e não outra, pois ele é na verdade a própria essência da integridade e está com cada pessoa da maneira como aquela pessoa pode melhor entendê-lo e relacionar-se com ele.
A visão da Nova Era
Por todo o mundo homens e mulheres estão sentindo as correntes de mudança e tomam consciência de que o planeta está passando por uma transformação.
Qual a natureza desta transformação? Qual a sua origem? Para onde ela está nos levando? Muita gente procurando responder a estas perguntas pertence à Nova Era. Quer dizer, elas sabem que o planeta Terra como uma totalidade, como um ser vivo, está entrando numa nova fase de evolução, uma era na qual os desafios aparentemente insolúveis de hoje podem ser encarados e solucionados de maneira dinâmica e criativa, uma era na qual os problemas do passado são transformados em nova vida e novo crescimento através da consciência divina.
Fundamentalmente, a Nova Era é uma mudança de consciência de separação e isolamento para comunhão e integridade. A visão da Nova Era é de harmonia e paz – uma era na qual cada indivíduo se revela como pessoa integral, equilibrada e amorosa, capaz de cooperar com seus companheiros na criação de um novo mundo.
A Nova Era está sendo revelada de muitas maneiras, através de indivíduos, grupos e centros em todo o mundo. A Universidade da Luz de Findhorn é um desses centros. Nós somos uma comunidade de pessoas no Norte da Escócia que reuniu nossas energias vitais, pensamento e trabalho para abrir caminho à vida comunitária e manter um centro onde a consciência possa ser transformada.
O jardim Findhorn
Para muitas pessoas Findhorn é mais ou menos identificada com o jardim. Mas o jardim não é simplesmente um belo ambiente para ser apreciado pela comunidade e admirado pelo visitante. Ao contrário, como diz David Spangler: “O papel do jardim Findhorn tem sido demonstrar uma forma especial de cooperação com a natureza, baseada na visão da vida inerente e inteligência intencional da natureza”.
A importância do jardim, então, só pode ser completamente avaliada diante da experiência do mundo de hoje, onde a natureza é amplamente considerada como pouco mais que uma “coisa” material a ser manipulada e explorada pelo homem para seu próprio ganho, objeto intratável a ser dominado e modulado conforme seus fina egoístas.
É aspiração da Comunidade Findhorn ajudar a abrir caminho para uma nova atitude com relação à natureza e iniciar a transição entre esse relacionamento de dominação e uma consciência de inter-relação de todas as vidas, levando o homem e a natureza a uma integridade e sinergia criadoras.
Isso está sendo feito através de um programa duplo: primeiro, explorar todo o domínio da comunicação com o espírito e a vida que são a realidade interior além das formas exteriores da natureza; e segundo, dirigir o trabalho prático do jardim de acordo com essa comunicação.
O Jardim começou quando Peter decidiu plantar legumes para a sua família. Desde então, passo a passo, o jardim tem crescido para tornar-se um lugar de beleza, integrado nos três acres de terra onde a comunidade vive; sinuosos caminhos com canteiros de flores e plantas de rocha em volta dos bangalôs, o movimento circular do gramado com o jardim aquático, o jardim de musgo e rocha no parque, o recém-formado pinheiral que terá árvores de copa densa e arbustos, com áreas isoladas para se sentar, e a horta, que antes provia as necessidades de uma família, e agora supre a comunidade com saladas no verão e alho porro no inverno – tudo demonstrando a realidade interior do divino numa amostra de energia e cor que delicia o visitante e surpreende o especialista.
O Jardim Findhorn não é apenas outro lugar para se ver. É uma demonstração da verdade de que existem seres em outras dimensões de energia que são diretamente responsáveis pelas formas da natureza. Esses seres são os arquitetos e engenheiros da natureza, conhecidos como os devas e elementais.
Dorothy Maclean, que nos primeiros tempos uniu-se a Peter e Eileen, descobriu que era capaz de comunicar-se com o reino dévico. As mensagens que recebeu tiveram papel definitivo na história do jardim: algumas abriram caminho para uma nova consciência do homem com relação à natureza; algumas falavam com urgência da necessidade do homem conhecer e cooperar em amor com os espíritos da natureza, para ser capaz de sobreviver; e outras deram direções explicitas sobre como cultivar e proteger certas plantas.
Logo ficou claro que as leis aprendidas no jardim são as leis da própria vida. A vida como um todo é vista como uma aventura em cooperação com o nosso meio, com nossos companheiros e com nossa divindade interior.
À medida que as pessoas aprendem a viver neste amor e harmonia, conforme trabalham juntas pela realização material e espiritual, experimentarão a mudança de consciência que é a realidade da Nova Era. Elas começarão a saber o que significa recriar o mundo inteiro e introduzir a Nova Era, “uma idade de ordem, beleza e perfeição em todos os níveis”.
Instalações modernas
A comunidade vive em trailers e bangalôs, a maioria deles ocupados durante todo o ano. Alguns, porém, estão sempre disponíveis a visitantes, inteiramente mobiliados e com instalações modernas. Roupa de cama e banho são também fornecidas.
Somados aos trailers e bangalôs, há os edifícios principais que servem a vários propósitos na vida da universidade: o Centro Comunitário, que inclui cozinha, sala de estar e refeitório. Refeições vegetarianas são servidas ao meio-dia e à noite. Todo sábado depois do jantar a comunidade se reúne para trocar informações e experiências da semana passada.
Recentemente a comunidade adquiriu uma grande casa com biblioteca e salas de estudo, conhecida como O Parque. Há ainda um pequeno teatro para apresentações de filmes, audiovisuais, grupos de estudo ou apresentações artísticas. O estúdio de artesanato está alojado numa série de quatro prédios, cada um dedicado a um ofício específico, incluindo trabalho em vela, cerâmica, tecelagem, silkscreening e desenho.
Há alguns prédios menores espalhados por toda a comunidade que são usados como escritório e sede administrativa. Um grande prédio para impressão e edição acaba de ser construído, alojando as Publicações Findhorn. À disposição dos membros da comunidade, assim como dos residentes locais e turistas, há um posto de vendas de comestíveis, objetos de uso diário e uma seleção de artesanato, teipes e literatura.
Está sendo construído um grande Centro Universitário com teatro, salas para seminário, para trabalho em artesanato, salas de estar, um estúdio de gravação e uma grande sala de palestras. O coração da comunidade é o santuário, onde cada dia se inicia com meditação e comunhão em silêncio.
Os trailers, bangalôs e a maioria dos edifícios principais são rodeados de gramados, arbustos e pequenos jardins; grandes canteiros de flores e verduras estão espalhados por toda a comunidade.
A comunidade está localizada no estuário do rio Findhorn ao lado sul do fiorde de Moray. O campo próximo oferece muitas oportunidades para atividades ao ar livre; montanhas, rios, colinas, lugares históricos e lindas paisagens.
Cercado em três lados por água, Findhorn usufrui de um clima relativamente moderado. No entanto, ventos fortes podem soprar a qualquer tempo do ano e é aconselhável trazer roupa quente. É também conveniente que o visitante inclua em seu guarda-roupa uma muda de roupa de trabalho, assim como roupa para a noite, confortável e informal.