A busca de Roldão Brandão por uma civilização de 3 mil anos no Rio Urubu, no Amazonas

Arqueólogo Roldão Brandão (Reprodução)

A incrível busca do arqueólogo Roldão Pires Brandão por uma antiga civilização no misterioso Rio Urubu, afluente do Rio Amazonas, situado a leste de Manaus, com 500 km (310 milhas) de comprimento, onde o pesquisador acreditava existir uma cidade submersa. O texto é de autoria do jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso de 1973 conquistado ao cobrir para O Estado de S.Paulo a expedição dos irmãos Villas-Bôas de contato dos índios kranhacarores, no Mato Grosso. O texto a seguir data de abril de 1976, quando Marqueiz, correspondente do Estadão, também escrevia para a conceituada revista Planeta.

O fantástico, o absurdo e o real se confundem com inscrições estranhas, indícios da existência de povos pré-históricos, cidades submersas e navios naufragados, envolvendo lendas e superstições de índios e caboclos.

Tudo isso está em uma pequena área do Rio Urubu, pequeno afluente do Rio Amazonas, distante 260 quilômetros de Manaus e onde se encontra acampado o arqueólogo Roldão Pires Brandão, presidente da Associação Brasileira de Arqueologia e Pesquisa. Esse arqueólogo, de 52 anos, conta com o apoio da Marinha e da Prefeitura de Itacoatiara – pequeno município do interior amazonense – e já descobriu, anos atrás, sete cemitérios indígenas, um afloramento de animais petrificados e uma floresta de árvores petrificadas, quando a serviço da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

Agora, um ano depois de ter escalado o Pico da Neblina, o mais alto ponto do país, localizado ao norte do planalto das Guianas, na serra de Tapirapecó, o arqueólogo Roldão Pires Brandão permanece há vários meses praticamente isolado na floresta, à margem esquerda do Rio Urubu. Sua missão: desvendar o mistério das figuras e letras, com caracteres fenícios, gravados em grandes pedras, que parecem indicar a localização de um sarcófago de um rei e da existência de uma civilização extinta há 3 mil anos.

Depois de muitas pesquisas, supõe que os representantes desse povo naufragaram e que ainda se encontra submerso o casco da embarcação. Os que conseguiram se salvar chegaram até a floresta e construíram uma cidade – hoje submersa — esculpindo nas pedras a marca de sua presença.

O arqueólogo Roldão Pires Brandão fala de suas fantásticas suposições com tanta convicção e riqueza de detalhes que chega a convencer até os mais céticos. Ele começou a desenvolver suas pesquisas no Rio Urubu depois de tomar conhecimento de um trabalho ilustrado com fotografias, do coronel Bernardo de Azevedo Silva Ramos, fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Amazonas.

Já em 1920, esse historiador anunciava que no Rio Urubu havia estranhas gravuras e letras, com caracteres fenícios. Ele se fundamentou também no trabalho do sábio francês Ernesto Renan, que apontou como fenícias e feitas há mais de 3 mil anos as inscrições encontradas em 1896, em Pouso Alto, na Paraíba. E ainda mais: a 80 quilômetros do Rio Urubu, no Uatumã, o pesquisador Ludwig Schwenhagen constatara a existência de cerâmica e gravuras fenícias feitas no ano 1 100 a.C.

Essa descoberta consta do livro A Antiga História do Brasil. “O Brasil faz parte do mundo — lembra o arqueólogo — e os rios da Amazônia são abertos para o mundo. Em consequência, não há fantasia nenhuma em supor que povos antigos navegaram por aqui milhares de anos atrás. E a evidência de tudo isso está nessas figuras, nesses desenhos, nessas letras, comprovadamente fenícios, fixados nessas pedras. Todas essas gravuras e sinais não são nem podiam ter sido feitos pela ação das águas, nem provocados pela erosão.

(Reprodução)

As caretas e o aço

As caretas estereotipadas em pedras, encontradas pelo arqueólogo Pires Brandão, possuem a consistência de aço protendido e sua posição tem uma explicação, segundo o pesquisador. As viradas para a margem direita do Rio Urubu, de águas escuras e piscosas, são admitidas como possíveis sentinelas, guardando o túmulo de um rei. As outras estão viradas, como se estivessem olhando para a maior e principal pedra, parecida com um sarcófago e onde ele admite a possibilidade de estar enterrado o rei dessa civilização extinta.

Nas pedras também há sinais que coincidem com a direção que indicam. Para o arqueólogo, eles apontam para algo muito importante enterrado por esse povo desaparecido. De pedra em pedra, de sinais em sinais, Pires Brandão conseguiu traçar, em dois meses de trabalho, uma linha reta de 34 metros e encontrou o que considera “a pedra- chave”.

Essa é uma outra grande pedra, com traços simétricos indicando a direção esquerda da floresta. Agora, o arqueólogo pretende abrir na mata uma picada de 100 metros para tentar descobrir novas pedras com outros sinais que possibilitem a descoberta de um túmulo. Acampado à margem do Rio Urubu, em plena floresta, o arqueólogo recebe as visitas mais diferentes. A maioria consiste em caboclos ribeirinhos que contam estórias de índios: seus antepassados presenciaram o naufrágio de um navio a poucos metros do local das pedras gravadas. Dizem, ainda, que nas noites de luar havia festa movimentada, com pessoas estranhas cantando músicas numa língua diferente.

Barcos a vela passavam vazios perto de suas malocas, assombrando a quietude da noite na floresta. Ainda hoje, os moradores locais visitam o arqueólogo e falam de sua crença na existência de um navio naufragado no Rio Urubu. Essa hipótese ganhou ainda mais consistência quando, seis meses atrás, um navio da Marinha, utilizando aparelhos especiais, constatou a existência de material estranho, exatamente no local apontado.

Outra descoberta

Recentemente, navegando pelo Rio Urubu, o arqueólogo Roldão Pires Brandão notou, a 500 metros de seu acampamento, uma fileira de grandes pedras polidas, formando uma muralha, como que sustentando as barrancas do rio. A existência desse arrimo, que ele supõe sejam ruínas de um ancoradouro de grandes embarcações, sustenta ainda mais sua tese da cidade submersa.

Essa sua hipótese também se ampara em lendas, porque o local foi denominado pelos navegadores nativos de Pedra Chata, devido ao grande número de pedras quadradas no fundo do leito do rio. Adiantando que não pode afirmar nem garantir nada, o arqueólogo continua pesquisando. Quer provar a existência da pré-história no Brasil e, como sempre, faz questão de repetir: “A arqueologia no Brasil era uma carroça à espera de um burro para puxá-la. Apareceu esse burro: eu”.