
MEIO AMBIENTE — Enquanto o mundo debate metas climáticas e transição energética, um estudo inédito lança um alerta devastador: a fumaça das queimadas — não apenas o CO₂ ou o desmatamento — pode se tornar, nas próximas décadas, uma das principais causas de morte global. A projeção é assustadora: até o fim do século, 14 milhões de pessoas podem morrer por ano apenas pela exposição à poluição gerada por incêndios florestais.
Diferentemente dos gases de efeito estufa, cujos impactos são de longo prazo, a fumaça age rápido — e dentro dos pulmões. Compostos tóxicos como material particulado fino (PM2.5), monóxido de carbono e compostos orgânicos voláteis viajam milhares de quilômetros, contaminando cidades distantes e afetando até quem nunca viu uma queimada de perto. Crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias são os primeiros alvos — mas ninguém está imune.
O estudo, conduzido por cientistas de universidades europeias e norte-americanas com base em modelos climáticos e epidemiológicos avançados, mostra que, se as queimadas continuarem no ritmo atual — impulsionadas por mudanças climáticas, expansão agropecuária e políticas ambientais fracas —, a fumaça se tornará uma ameaça maior do que acidentes de trânsito, diabetes ou até certos tipos de câncer em termos de mortalidade evitável.
“Não estamos falando de um cenário distante. Já vemos hoje megaincêndios na Amazônia, no Canadá, na Austrália e na Sibéria cobrindo continentes com névoa tóxica. Se nada for feito, isso será rotina — e letal”, alerta uma das autoras da pesquisa.
A boa notícia? Ainda há tempo. Reduzir drasticamente o fogo no solo, investir em monitoramento em tempo real, proteger florestas e punir responsáveis por queimadas ilegais podem inverter a curva. Mas o relógio corre — e cada temporada de fogo que passa nos aproxima de um futuro onde o ar que respiramos pode ser uma sentença.
O inimigo não é só o fogo. É o que ele deixa no ar — e dentro de nós.


