
EUA — O vibrante mercado global do açaí, que transformou a fruta amazônica em fenômeno mundial de saúde, enfrenta sua maior ameaça desde que deixou as comunidades ribeirinhas do Pará para conquistar o mundo. Com os Estados Unidos importando praticamente toda sua polpa do Brasil, novas tarifas comerciais podem elevar os preços em até 30%, transformando o produto em artigo de luxo – e colocando em risco um negócio que movimenta US$ 1 bilhão anualmente.
O paradoxo do açaí globalizado
Em uma unidade da Playa Bowls no coração de Manhattan, clientes pagam US$ 18 (R$ 100) por uma tigela de açaí com granola e banana – valor que pode subir para US$ 23 com as novas tarifas. “Já ouvimos reclamações sobre o preço atual. Se aumentar mais, vai virar produto para poucos”, alerta Ashley Ibarra, gerente da loja.
A apenas três quarteirões dali, na concorrente Oakberry – maior rede de açaí do mundo com 700 lojas em 35 países -, o cenário não é mais animador. Uma porção menor já custa US$ 13, e a empresa se recusou a comentar como absorveria os custos extras.
A ascensão meteórica (e frágil) do “ouro roxo”
Os números mostram uma transformação radical:
• 2009: 150 mil toneladas produzidas
• 2023: 1,9 milhão de toneladas
• Crescimento: 1.166% em uma década
“O açaí saiu das feiras de Belém para se tornar commodity global em tempo recorde”, analisa o economista Marcelo Oliveira, especialista em mercados emergentes. “Mas essa rápida internacionalização criou vulnerabilidades.”
O dilema dos produtores: inovar ou perder o mercado
Nazareno Alves da Silva, presidente da Associação de Produtores de Açaí do Amazonas, revela o impasse: “Estamos fazendo contas de todos os lados, mas os números não fecham. Ou conseguimos um acordo comercial, ou seremos forçados a abandonar parte do mercado americano.”
As opções são limitadas:
1. Reduzir margens de lucro já estreitas (inviável)
2. Repassar custos aos consumidores (arriscado)
3. Buscar novos mercados (demorado)
Efeito dominó na economia global
O impacto potencial vai além do açaí:
✓ 34% do café americano vem do Brasil
✓ 28% do suco de laranja consumido nos EUA é brasileiro
✓ 15% da carne bovina importada pelos EUA tem origem brasileira
“Estamos diante de um teste crucial para produtos brasileiros de alto valor agregado”, alerta a professora de comércio internacional da Columbia University, Elena Petrov. “O resultado pode redefinir fluxos comerciais para a próxima década.”
O futuro do superalimento
Enquanto a FDA (agência reguladora americana) ainda estuda os reais benefícios do açaí – promovido como potente antioxidante e fonte de ômega-3 -, consumidores como Milan Shek, que frequenta lojas em Manhattan, já sentem o impacto: “É uma delícia, mas tem limite para o quanto estou disposto a pagar.”
O impasse comercial coloca em cheque não apenas preços, mas todo um ecossistema que vai dos seringueiros amazônicos às redes de fast-food saudável em Nova York. A próxima jogada, agora, depende de negociadores em Brasília e Washington.


