O sumiço do Tucumã e o surgimento de oportunidades para a Bioeconomia na Amazônia

“Para isso, é necessário um esforço conjunto de governos, instituições de pesquisa e a iniciativa privada para garantir que a oferta do tucumã seja constante e sustentável, beneficiando tanto a economia local quanto o tecido social e a utilização inteligente da biodiversidade da Amazônia, transição para a diversificação.”

Por Nelson Azevedo – [email protected]

São múltiplos os desafios da escassez sazonal do tucumã, uma fruta amplamente apreciada na Amazônia, que enfrenta atualmente uma escassez sazonal desde final de abril. A abundância ocorre durante os primeiros quatro meses do ano. E como o cultivo extensivo ainda não pode ser considerado uma rotina regional, os prejuízos de sua escassez são variados, para quem oferta e para quem compra este fruto dourado de nossa identidade cultural gastronômica.

Valor nutricional e cultural do tucumã

Essa fruta, rica em nutrientes (vitaminas A, B1, C e Ômega-3, tem um alto poder antioxidante na prevenção do envelhecimento) e sabor único, é parte integrante e destacada da dieta amazônica, assim como o bacon seria para a dieta britânica. Com potencial econômico significativo, o tucumã não recebeu os investimentos que tornem perene sua oferta e inserção em nova modulação econômica. A solução para este assunto pode sugerir uma solução cultural e socioeconômica e ilustrar alternativas promissoras de Bioeconomia.

Ciclo natural e escassez sazonal

Embora a Embrapa Amazônia Ocidental já tenha consolidado o aprimoramento do plantio, uma metodologia disponível em seus arquivos, ainda permanecemos no ciclo natural do tucumã, daí sua escassez anual. Durante apenas quatro meses, a fruta está disponível em abundância no mercado, o que afeta os consumidores locais, e as cadeias produtivas que dependem desse fruto. Esse período de escassez é um reflexo da falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento que poderiam mitigar os impactos do ciclo natural da fruta. O que há no mercado após a safra são manejos improvisados e que padecem de urgente intervenção.

A seringueira e o PIB do Brasil

A história da Amazônia tem um paralelo interessante com a exploração da seringueira durante o ciclo da borracha. Durante três décadas, a borracha foi o pilar da economia amazônica, trazendo riqueza e desenvolvimento para a região e 45% para compor o PIB do Brasil. No entanto, após o colapso do ciclo da borracha, a seringueira não foi alvo de estudos suficientes que pudessem garantir a sustentabilidade e o incremento da produtividade como fizeram os ingleses no Sudeste Asiático. Da mesma forma, o tucumã, apesar de sua importância cultural e econômica, não tem recebido a atenção necessária para superar os desafios de sua produção extensiva e permanente e consequente agroindústria de sua produção.

Potencial da Bioeconomia

O tucumã possui um enorme potencial dentro do contexto da bioeconomia amazônica. Conforme destacado nas pesquisas de instituições regionais, a bioeconomia pode ser um motor de desenvolvimento sustentável para a região. Investir em pesquisa para o incremento da produtividade do tucumã, assim como para outras frutas e produtos amazônicos, é essencial para garantir uma oferta contínua e constituição exploratória de novos mercados.

Recomendações da Reforma Tributária

A recente reforma tributária impôs uma transição econômica crucial para a diversificação, adensamento e regionalização do desenvolvimento com especial ênfase na bioeconomia da Amazônia. Com a criação de iniciativas sustentáveis e a simplificação do sistema tributário, há uma janela de oportunidade para investir em tecnologias e pesquisas que possam prolongar a safra do tucumã e melhorar sua produtividade. Essa reforma busca integrar práticas sustentáveis e inovadoras, alinhando-se aos padrões globais de sustentabilidade e promovendo o equilíbrio entre desenvolvimento econômico e conservação florestal.

Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação – PDI

Para que o tucumã possa se tornar uma fonte de renda perene e sustentável, como tantas outras espécies da biodiversidade, é essencial investir em pesquisa e desenvolvimento. Estudos focados em técnicas de cultivo que possam prolongar a safra, melhorar a resistência das plantas a pragas e doenças, e aumentar a produtividade são fundamentais. Além disso, tecnologias de conservação e processamento podem ajudar a manter a fruta disponível durante todo o ano com textura, nutrição e sabor.

O IDESAM, O fomento e o desenvolvimento sustentável

As empresas do Polo Industrial estão elegendo o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), responsável pelo Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), escolhido novamente pela Suframa, para consolidar esta alternativa, a mais coerente com as vocações naturais da diversificação industrial na Amazônia. Com essas credenciais, o Idesam tem implementado projetos que promovem o manejo sustentável dos recursos naturais demandados pela própria indústria.

Demandas e recursos do PIM

Atualmente, o IDESAM incentiva startups e negócios inovadores, incluindo – pasmem – fomento à produção da borracha, entre outros insumos e ativos naturais de forma sustentável. Com os órgãos de pesquisa e desenvolvimento e apoio da bancada parlamentar federal, o Instituto busca a liberação do PPB da borracha, uma exigência formal para uso das verbas de PDI para estreitar e consolidar a transformação de ativos naturais e regionais no tão sonhado adensamento sustentável da indústria da floresta, o Polo Industrial de Manaus.

Transição para a diversificação

A escassez sazonal do tucumã – que afeta cruelmente nossa rotina alimentar – é um desafio que pode ser superado com investimentos estratégicos em pesquisa e desenvolvimento. In natura, em pastas, geleias, cremes em múltiplas versões, o tucumã é chamado de ouro da Amazônia. Assim como a seringueira foi uma vez a base da economia regional e nacional por três décadas, o tucumã pode se tornar um pilar importante da bioeconomia da floresta. Para isso, é necessário um esforço conjunto de governos, instituições de pesquisa e a iniciativa privada para garantir que a oferta dessa experiência frutífera sagrada seja constante e sustentável, beneficiando tanto a economia local quanto o tecido social e a utilização inteligente biodiversidade da Amazônia, uma transição para a diversificação.

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do SIMMMEM, Sindicato da indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.