Um satélite russo com “comportamento muito anormal” em órbita deixou os Estados Unidos em alerta, segundo um funcionário do Departamento de Estado do país.
“Não sabemos ao certo o que é esse satélite e não há como averiguar”, disse a secretária assistente de Estado para Controle e Verificação de Armas, Yleem Poblete, em uma conferência na Suíça nesta terça-feira.
Ela manifestou o receio de que não seja possível dizer se o objeto pode ser uma arma e afirmou que seu comportamento era incompatível com o de “qualquer coisa” avaliada a partir de uma inspeção em órbita (ou seja, enquanto está no espaço), inclusive outros artefatos russos.
A Rússia rechaçou os comentários, afirmando que não passam de “acusações infundadas e caluniosas baseadas em suspeitas”.
O satélite em questão foi lançado em outubro do ano passado.
“As intenções russas com relação a esse satélite não são claras e são obviamente algo muito preocupante”, acrescentou, citando comentários recentes feitos pelo comandante da Força Espacial da Rússia, segundo o qual adotar “novos protótipos de armas” era um objetivo-chave para a organização.
Poblete disse que os EUA tinham “sérias preocupações” de que a Rússia estivesse desenvolvendo armas antissatélite.
Alexander Deyneko, um alto diplomata russo, disse à agência de notícias Reuters que os comentários eram “as mesmas acusações infundadas e caluniosas baseadas em suspeitas, em suposições e assim por diante”.
E pediu aos EUA que contribuíssem para o tratado no qual Rússia e China trabalham juntas há dez anos – discutido mais uma vez na conferência da qual Poblete participou nesta semana – e que visa evitar uma corrida armamentista no espaço.
‘Lasers ou micro-ondas’
As armas espaciais podem ser projetadas para causar danos de formas mais sutis do que as armas tradicionais, como armas de fogo, o que poderia resultar em muito lixo espacial em órbita, explicou Alexandra Stickings, analista de pesquisa do Royal United Services Institute, instituto de pesquisas independente nas áreas de defesa e segurança, com sede em Londres, na Inglaterra.
“[Tais armas podem incluir] lasers ou frequências de micro-ondas que poderiam simplesmente parar o funcionamento (de um satélite) por um tempo ou desativá-lo permanentemente sem destruí-lo ou interrompê-lo via interferência”, disse ela.
Mas seria difícil saber qual tecnologia está disponível, porque muita informação sobre os recursos espaciais existentes hoje é confidencial, acrescentou a secretária.
Ela também disse que seria muito difícil provar que qualquer evento causando interferência no espaço fosse uma ação intencional e hostil de uma nação específica.
Os comentários de Poblete foram particularmente interessantes à luz da decisão do presidente Donald Trump de lançar uma sexta ramificação das forças armadas dos EUA, chamada Space Force, ressaltou Stickings.
“A narrativa vinda dos EUA é ‘o espaço estava realmente pacífico, agora veja o que os russos e os chineses estão fazendo’ – ignorando o fato de que os EUA desenvolveram suas próprias habilidades (no ramo da tecnologia espacial)”.
Um porta-voz do Ministério da Defesa do Reino Unido disse que não pode confirmar nem negar qualquer rastreamento de satélites russos.
“Há uma gama de ameaças e riscos para todos os recursos espaciais, em que há um domínio cada vez mais contestado”, disse ele.
“Isso inclui o desenvolvimento de armas ‘contra-espaciais’ por diversas nações.”
“O Reino Unido está trabalhando ao lado de aliados internacionais, incluindo os EUA, para reforçar comportamentos responsáveis ??e seguros no espaço e para construir conhecimento, compreensão e resiliência”.
Fonte: BBC News