“A pandemia nos ensinou o poder da solidariedade e da colaboração. Agora, essa força coletiva deve ser canalizada para superar os desafios logísticos, reduzir os danos do desabastecimento e o que é mais importante, trabalhar por infraestrutura competitiva”.
Por Nelson Azevedo (*) [email protected]
As chuvas chegaram, mas não no volume suficiente para o Amazonas evitar uma crucial ameaça de desabastecimento. A rigor, isso já estava prevista desde as análises meteorológicas do começo do ano. Especialistas e autoridades vêm discutindo os riscos de uma vazante significativa, com graves reflexos na navegabilidade que supera os desafios vivenciados nos anos de 2005 e 2010. Ali, embora tivéssemos o isolamento de centenas de comunidade, a modalidade logística com a adoção de balsas carregadas de contêineres fosse satisfatória para as demandas da indústria.
Balizamento, dragagem e derrocagem
O transporte fluvial mudou e ainda hoje, sem alternativa rodoferroviária, representa a espinha dorsal da economia regional. Em Manaus, cerca de 70% das mercadorias entram e saem por meio de grandes embarcações, navios que precisam de mais de 8 metros de calado. No entanto, com a vazante dosarias, este cenário demonstra obstáculos que revelam a carência de investimentos em infraestrutura. Balizamento, dragagem e derrocarem das hidrovias. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNiT), após pressões políticas insistentes, iniciou operações emergenciais de dragagem em trechos com menos de 8 metros de profundidade. Mas essa medida pode, paradoxalmente, prejudicar a movimentação de embarcações de menor porte, essenciais para manter o fluxo de mercadorias.
Modais alternativos
Por anos, a indústria local tem clamado por melhorias na infraestrutura logística. O setor identificou, desde sempre, a necessidade de balizamento dos rios, no mesmo p roído em que a BR-319, uma alternativa rodoviária, está com sua manutenção abandonada há mais de 30 anos. A atual crise exige uma abordagem focada, envolvendo tecnologia, modais alternativos de transporte e a formação de um grupo especializado para avaliar os problemas e propor soluções. Não podemos desperdiçar as lições deste momento.
Infraestrutura competitiva
A Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) tem a missão de convocar os principais envolvidos para debater e propor medidas. Essa movimentação já demonstrou sua eficiência ao gerenciar crises, como visto na resposta ao Comitê Covid-19/ZFM. Na ocasião, associações de classe, governo, especialistas e a própria Suframa uniram-se em uma ação coordenada que evitou o fechamento das fábricas durante o auge da pandemia. E o que é melhor. Descobrimos que nossa capacidade industrial instalada poderia construir, por exemplo, EPI, equipamentos de proteção individual. Agora, já sabemos enfrentar gargalos logísticos, identificando as condições para tal.
Colaboração e solidariedade
No entanto, a realidade é que o desabastecimento é iminente. Os hábitos de consumo da população e a produção industrial poderão ser impactados. Mas, se houver rapidez, transparência e colaboração entre todos os setores, é possível enfrentar essa crise. A pandemia nos ensinou o poder da solidariedade e da colaboração. Agora, essa força coletiva deve ser canalizada para superar os desafios logísticos, reduzir os danos do desabastecimento. E o que é mais importante: trabalhar para garantir uma infraestrutura competitiva. Esta é a premissa de um futuro próspero para o Amazonas, para o Amazônia e para o Brasil.
(*). Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, Conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM e ainda diretor da CNI.