BRASÍLIA — O “lockdown” na China, pelo aumento de infecção de covid-19, e a interrupção da fabricação de semicondutores são os principais fatores responsáveis pelo adiamento por 60 dias do prazo de lançamento de 5G em todas as capitais do Brasil e no Distrito Federal. A data passou de 29 de julho para o fim de setembro. Sem esses equipamentos, os canais abertos e gratuitos de TV não podem mudar da faixa de 3,5 gigahertz (GHz), que será usada para 5G, e ir para outra frequência.
O impacto do cenário internacional sobre a nova rede 5G foi exposto ontem durante reunião do conselho diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Os conselheiros aprovaram por unanimidade a postergação do prazo.
O relatório com os argumentos para o adiamento foi apresentado por Moisés Queiroz Moreira, conselheiro da Anatel e presidente do grupo de acompanhamento da implantação das soluções para os problemas de interferência da faixa de 3.635-3.700 MHz (Gaispi). Essa faixa é ocupada por sistemas do serviço fixo por satélite (FSS). Sem o adiamento, o sinal de 5G poderia causar interferência prejudicial na operação de 1.357 estações do FSS, informou Moreira.
Carlos Baigorri, presidente da Anatel, disse que o problema sanitário na China está impedindo a fabricação e entrega de filtros para proteger os sistemas profissionais de TV aberta. Faltam também os receptores que serão colocados nas residências dos usuários de antenas parabólicas. Como os canais mudarão da banda C de satélite para a banda Ku, esses usuários precisarão de novos equipamentos para receber o sinal. A impossibilidade de liberação da faixa até 30 de junho, conforme estava estabelecido, levou o presidente do Gaispi a pedir dilatação do prazo.
“Então, a realidade se impôs, não temos filtros, não vai ativar 5G e derrubar a TV aberta”, disse Baigorri. “A política pública é bem clara à proteção da TV aberta em relação ao sistema de 5G.”
Se a falta de equipamentos for contornada antes dos 60 dias, o lançamento de 5G poderá ser antecipado. Mas se o problema persistir, o Gaispi terá de estudar um plano de contingência, disse Baigorri. Pela análise do Gaispi, esse prazo adicional, que já era previsto no edital de 5G, deve ser suficiente para a chegada dos filtros e instalação nos sistemas profissionais.
A Entidade Administradora da Frequência (EAF), criada pelo Gaispi, abriu solicitações de propostas para compra dos equipamentos em abril e maio. No entanto, teve baixo retorno entre as empresas convidadas, com quantidades muito aquém da demanda e prazo acima do previsto para o lançamento de 5G.