O cenário de disputa eleitoral entre Bolsonaro e Lula em 2022 tem tudo pra ser um embate duro e emocionante, pois ambos têm histórias antagônicas, pensam diferentes nos aspectos social, econômico, sanitário e moral, e também são dois líderes que possuem eleitores cativos e que sabem fazer uma comunicação direta com o público a quem se dirige.
O presidente Bolsonaro só pensava na sua reeleição e estava “navegando em céu de brigadeiro” e tomando banho sorridente nas praias de Santa Catarina porque ainda não tinha um opositor forte para a disputa eleitoral em 2022. Mesmo com decisões erradas em quase todas as áreas do governo federal, a aprovação do presidente continuava alta.
Agora, com a possibilidade real do ex-presidente Lula de disputar a presidência da República, o cenário político muda bastante e faz crescer as preocupações do presidente Jair Bolsonaro quanto a sua reeleição.
Por isso, depois da decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal – STF, anulando as condenações de Lula relacionadas à Operação Lava Jato, que estavam na 13ª Vara Federal de Curitiba, tornando-o elegível, Jair Bolsonaro vem mudando suas posições em relação à vacinação contra o Covid-19, passando a apoiá-la, e também sua postura quanto às recomendações sanitárias, inclusive, usando máscara em eventos públicos.
Por outro lado, o ex-presidente Lula vem alçando popularidade com a defesa de uma campanha ampla de vacinação, crescimento econômico, criação de mais empregos e em defesa do meio ambiente. Parece que a ideia é centrar fogo em temas que o atual governo tem bastante dificuldade em solucionar e nos quais vem sofrendo as maiores críticas.
Diante disso, o presidente busca reorganizar o seu governo, mudando, principalmente, a forma como vem conduzindo a área da saúde, com o objetivo de não deixar o seu maior adversário crescer eleitoralmente junto à opinião pública, fortalecendo-se como um obstáculo à sua reeleição.
As movimentações de Bolsonaro e de Lula mudam também a ideia de unidade eleitoral chamada de “terceira via”, defendida por políticos e por partidos de Centro para enfrentar a polarização eleitoral entre Esquerda e Direita.
Nomes como Ciro Gomes (PDT), Luciano Huck (sem partido), Luiz Mandetta (DEM) e João Dória (PSDB) são lembrados. Porém, João Dória (PSDB) continua sem representatividade nacional que possibilite ele alcançar a presidência da República e já acenou que vai disputar a reeleição em São Paulo. Mandetta já se ofereceu para ser vice de Ciro Gomes. O pedetista continua sem crescimento eleitoral. Sem contar que tanto Bolsonaro quanto Lula possuem apoiadores dentro dos partidos declarados de centro político.
Mas nem tudo é um “mar de rosas”. Bolsonaro tem contra si a sua administração que decepciona, quase 300 mil pessoas mortas pela pandemia do coronavírus, o envolvimento dele e de membros de sua família em investigações pelo Ministério Público e pelo STF. Lula da Silva tem há décadas a eterna espada da justiça brasileira sobre sua cabeça, investigações do Ministério Público, e ele e alguns correligionários implicados em corrupção.
A polarização política no país não é um mal ou um defeito particular do sistema político nacional. Esse tipo de disputa dual aparece no mundo moderno em muitos países democráticos, como nos Estados Unidos da América – EUA e também na Europa.
Esse é o cenário político de hoje, mas até 2022 muitas águas vão passar e a nuvem da política pode mudar. O mais importante é a consolidação da democracia e deixar para o eleitorado decidir quem é melhor para o país, sem interferência da Justiça ou da Polícia.
*Carlos Santiago – Sociólogo, Analista Político, Advogado e Membro da ALCAMA