A praça 15 de Novembro, popularmente conhecida como praça da Matriz, foi devolvida à população de Manaus, pelo prefeito Arthur Virgílio Neto, no dia 15 de novembro de 2017, após completa revitalização. A intervenção urbanística realizada pela Prefeitura de Manaus fez um resgate ao traçado original da praça, que data de 1930, devolvendo à cidade parte de sua história.
E, um ano depois da entrega, os achados arqueológicos encontrados durante as escavações da obra continuam a revelar a identidade histórica de Manaus. Mais de 3,5 mil peças foram localizadas, entre louças, cerâmicas, gres (espécie de cerâmica de garrafa que não é transparente), vidros e material metálico.
Todo o trabalho de campo para identificação arqueológica foi feito sob a coordenação da arqueóloga Margareth Cerqueira. Os achados passaram por limpeza, foram catalogados e receberam um número de identificação, passando a fazer parte de um inventário.
“Qualquer obra num centro urbano requer o acompanhamento de arqueologia, que é a ciência que trata de uma cultura material. Então, tudo que está no subsolo é patrimônio cultural, é arqueologia histórica”, explicou o coordenador técnico do PAC Cidades Históricas, Almir Oliveira. “O material que sai das obras acaba contando a história daquele lugar”, completou.
Entre a variedade dos achados arqueológicos, estão vidros de perfume, que eram usados como tinteiros, lamparinas, peças antigas da engrenagem do Relógio Municipal e um vidro de caldo de boi, o Bovril, alimento que os ingleses produziram para fortalecer a tropa durante a 1ª Guerra Mundial.
“Isso é muito significativo, porque fala da presença dos ingleses aqui em Manaus e que construíram o porto. A relação dos ingleses com Manaus é algo que se ouve falar na história e esse achado é uma comprovação científica de que essa relação é bem estreita”, destacou o coordenador do PAC, acrescentando que os únicos achados arqueológicos que ficaram na praça da Matriz foram os paralelepípedos.
“Os paralelepípedos, que são material arqueológico, redesenharam a feição antiga do largo da Matriz, como a pista da avenida Eduardo Ribeiro, a ruazinha que passa em frente ao pátio da escadaria. Com essa intervenção, devolvemos uma configuração urbana da década de 30 para aquele lugar da cidade. A praça ficou bem mais ampla”, ressaltou Almir Oliveira.
Catalogação
Durante o trabalho de identificação de cada peça que foi retirada da Matriz, é possível se chegar a uma data relativa, a que período ela pertenceu, qual o uso desse material, se doméstico, farmacológico ou comercial.
“Nós encontramos garrafas de vidro com mais de 200 anos, que já estão começando a se decompor, mais ou menos da época que começou a fabricação do vidro. Encontramos também muito material estrangeiro, que não tem aqui no Brasil ou que hoje já existe por aqui, mas que é muito difícil de ser encontrado, como a garrafa de gres, de origem holandesa, que vinha para o Brasil com bebida alcoólica ou com tinta nanquim”, revelou o arqueólogo Adilon Inuma, coordenador do trabalho de laboratório.
Todas as peças arqueológicas serão guardadas no Centro de Pesquisas Arqueológicas, para serem fonte de pesquisa. O centro está localizado no Laboratório de Arqueologia Alfredo Mendonça, cuja sede fica no Palacete Provincial, na praça Heliodoro Balbi, Centro de Manaus.